sábado, 31 de dezembro de 2011

A biografia do Apóstolo Paulo






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 A biografia do Apóstolo Paulo



Apresentação do autor
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  • O irmão Jânio Santos de Oliveira é Presbítero da Igreja evangélica assembléia de Deus há dezoito anos; é pesquisador e professor tendo dado aula em diversos seminários, como EETAD, IBADESC; ele é conferencista e pregador do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Além desta, tem diversas outras obras publicadas, as duas principais é o manual do obreiro aprovado e as catástrofes da história á luz da Bíblia.
  •  
  • Pastor Gilsom Menezes de Oliveira é o
  • Presidente da Assembléia de Deus no Estácio
  • Situado na rua hadok Lobo 92 Centro do Rio.























SUMÁRIO DA MATÉRIA                            Nº da página


INTRODUÇÃO                                                    5
                                         I.O ambiente da vida de Paulo.,                      5 
II. Juventude educação ofício e seita religiosa. 6
III. Sua formação.                                               6
IV. Sua conversão.                                              7
V. Seu ministério.                                                    7
VI. As fraquezas do Apóstolo.                             8
VII. As figuras paulinas.                                   9-11
VIII. A vocação de Paulo.                                12-14
IV. As viagens missionárias.                           15-17
1.1ª viagem missionária.                                  15
2. 2ª viagem missionária.                                 16
3. 3ª viagem missionária.                                 16
X. Sua viagem a Jerusalém.                            17-36
XI. Sua prisão em Cesaréia.                              37
XII. Sua prisão em Roma.                                  38
XIII. Sua morte.                                                  38



BIBLIOGRAFIA                                                   39






 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

– HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS
Neste primeiro tópico do nosso estudo, abordaremos questões referentes à pessoa do apóstolo Paulo, suas viagens, sua obra, seu zelo e sua doutrina. Suas viagens se revestem de fundamental importância e estão ligadas ao propósito do seu ministério. Apóstolo significa "enviado". Sendo assim, o apóstolo precisa ir. Suas viagens produziram uma obra, que foi o estabelecimento de igrejas em diversas cidades do Império Romano. Após a fundação das igrejas, Paulo poderia, simplesmente, seguir adiante sem se importar com o rebanho. Entretanto, destaca-se o seu zelo, demonstrado pelo envio de cartas às igrejas, inclusive a uma que não foi por ele fundada, a igreja de Roma. Essa correspondência poderia conter apenas assuntos de interesse pessoal do autor e dos destinatários. Entretanto, contêm a mais sublime exposição da doutrina cristã. Depois de todo esse trabalho, o apóstolo não recebeu recompensa humana. Pelo contrário, foi perseguido, preso, açoitado e morto. As suas viagens e as suas prisões foram necessárias para que hoje tivéssemos as epístolas paulinas no Novo Testamento.

 

A vida de Paulo

O ambiente de vida

A vida do apóstolo Paulo pode ser dividida da seguinte maneira: do nascimento aos 28 anos – judeu observante; dos 28 aos 41 anos – o convertido fervoroso; dos 41 aos 53 anos – o missionário itinerante e dos 53 até a morte, presumivelmente aos 62 anos – o prisioneiro e organizador das comunidades.
[1] Ou ainda: estudante farisaico; rabi perseguidor; aprendendo o Cristianismo; líder missionário e ensinador das igrejas.
[2] Nasceu em Tarso, região da Cilícia, Ásia Menor, atual Turquia. Tarso era uma cidade bonita e grande. Tinha 300.000 habitantes e suas ruas eram estreitas e as casas pequenas. Era um importante centro cultural e comercial. Possuía um porto ativo e estava localizada na estrada romana que ligava o Oriente ao Ocidente. Em Tarso a cada quatro anos realizavam-se os jogos de atletismo: corridas, lutas, lançamento de disco, tiro ao alvo etc. Tarso é hoje um pequeno povoado.
Em quase todas as cidades romanas havia bairros dedicados aos judeus, cada um com uma sinagoga. A comunicação entre a sinagoga e o Templo em Jerusalém era muito intensa. Isto explica o fato de Paulo ter nascido em Tarso, mas educado em Jerusalém. Como judeu foi criado dentro das exigências da lei de Deus e das tradições paternas. Os judeus da diáspora eram praticantes. Estima-se que a população judaica na diáspora era o dobro dos habitantes judeus na Palestina
JUVENTUDE, EDUCAÇÃO, OFÍCIO E SEITA RELIGIOSA.
Embora Tarso fosse uma ótima cidade, sua cultura e costumes eram estranhos ao judaísmo. Os pais de Saulo parecem ter se preocupado com a formação religiosa do filho. Por isso, Saulo foi morar em Jerusalém (At.26.4), onde estavam sua irmã e seu sobrinho (At.23.16). Tal mudança deve ter ocorrido por volta dos 13 anos de idade, quando todo judeu deveria se apresentar no templo judaico. Daí em diante, o jovem Saulo passou a ser instruído pelo mestre fariseu Gamaliel (At.5.34; 22.3). Tornou-se também um fariseu convicto e extremamente zeloso (Gl. 1.14). Pela análise de todos os textos mencionados, entendemos que a família de Saulo era influente. Ele mesmo chegou a possuir algum nível de autoridade política e religiosa em Jerusalém. Pode ter participado do Sinédrio ou simplesmente de uma sinagoga, onde votava contra os cristãos (At.26.10). Parte de sua instrução foi o aprendizado da confecção de tendas, ofício que mais tarde lhe serviria como fonte de renda em algumas viagens.
Tendo nascido no ano 1, Paulo era contemporâneo de Jesus. Contudo, não sabemos se chegaram a ter algum contato antes da crucificação. Isso é bastante possível, mas, por falta de provas, torna-se apenas objeto de especulação. Os versículos de II Cor. 5.16 e I Cor.9.1 podem indicar esse conhecimento, mas isso não é absolutamente certo. Mesmo que tenha tomado conhecimento a respeito de Jesus, Paulo, como fariseu, não via em Cristo a realização de suas esperanças, uma vez que os fariseus aguardavam a emancipação política de Israel. Assim, o cristianismo, que anunciava um reino espiritual, apresentava-se como abominação aos olhos de Paulo, o qual se tornou um perseguidor implacável contra os cristãos (Gl. 1.13; I Cor. 15.9). Não satisfeito com as perseguições dentro de Jerusalém, Paulo os perseguia em outras cidades, procurando prendê-los afim de que fossem mortos. Notamos nisso um ímpeto "missionário" às avessas. Nesse tempo de perseguidor, Saulo ainda era um jovem, conforme está escrito em At.7.58; 8.1-3.


[3] Paulo descende de uma família rigidamente judaica que vivia na diáspora.

A formação
Recebeu sua formação básica na casa dos pais, na sinagoga e na escola. Além disso, recebeu formação em Jerusalém, estudando aos pés de Gamaliel. Mas também recebeu a educação de um grande centro como era Tarso. Os jogos realizados em Tarso influenciaram Paulo, pois ele cita-os fazendo comparação: 1 Co 9.25, Fp 3.12-14, 1 Co 9.26, 2 Tm 4.7. A preparação teológica no contexto judaico incluía a aprendizagem de uma profissão, daí a formação de Paulo para o artesanato com o couro.


 [4] Paulo era fabricante de tendas, ofício que aprendeu com o pai. Paulo era cidadão romano, pois seu pai ou avó pôde adquirir a cidadania. Como cidadão era membro oficial da cidade. Os seguintes títulos situam Paulo entre a elite: cidadão romano, líder nato, membro ativo da comunidade, formado para tomar conta da oficina do pai.
O pai de Paulo deve ter sido um judeu que serviu como “auxilia”, precisamente como um fazedor de tendas, botas e cobertores de couro para o exército romano e ganhou a cidadania por algum serviço especial. [5] Portanto Paulo provém de uma família que goza de seus direitos plenamente.

CONVERSÃO
A conversão de Saulo se deu por volta dos anos 33 ou 34 d.C.. Converteu-se sem a pregação do evangelho por parte de outro homem (Gál. 1.11-12). Afinal, quem pregaria para Saulo? O próprio Ananias ficou temeroso quando Deus lhe enviou a orar por aquele que era conhecido como o grande perseguidor da igreja (At.9.13). Uma conversão sem pregação constitui-se exceção. O normal é que alguém pregue o evangelho para que outros se convertam (Rm. 10.14).


O ministério
Paulo tinha 28 anos de idade quando da sua experiência. Nesta época tinha poder e prestígio. Aos 41 anos tornou-se um missionário. Neste período o imperador era Cláudio (41-54) e depois Nero (54-67). Partindo do itinerário apresentado por Atos, Ronald Rock chega à conclusão que Paulo viajou cerca de 10 mil milhas (16 mil km). Nestas viagens encontrou funcionários do governo, mercadores, peregrinos, enfermos, carteiros, turistas, escravos fugitivos, prisioneiros, atletas, artesãos, mestres, estudantes etc.
[6] As viagens eram muito difíceis. Só as grandes estradas romanas é que possuíam hospedarias a cada 30 km para oferecer segurança aos viajantes.
 [7] Um navio antigo comum podia fazer 160 km por dia. A cavalo percorria-se cerca de 40 km por dia e a pé de 25 a 30 km.

As fraquezas do apóstolo

[8] Uma das marcas indiscutíveis do ministério de Paulo foi o sofrimento que teve durante sua vida ministerial. Suas cartas relatam estes sofrimentos: 1 Coríntios 4.9-13 – marcas da cruz de Cristo; 1 Coríntios 16.8-10 – adversários e tribulações; 1 Coríntios 15.32 – lutas; 2 Coríntios 7.5 – conflitos e temores; Gálatas 4.11-15 e 2 Coríntios 12.7 – enfermidades (talvez acessos de malária); 2 Coríntios 11.23-33 – elenco completo de sofrimentos: prisões; açoites; perigos de morte; fustigado com varas; apedrejado; naufrágio; perigos nas viagens, nas cidades, nos mares, entre judeus, entre gentios, nos rios; fome e sede; frio e nudez; etc.
Além dessas referências, encontramos declarações paulinas sobre a fraqueza: “Deus escolheu as coisas fracas do mundo” (1CO 1.17); “Foi em fraqueza que estive entre vós” (1Co 2.3); “Sinto prazer nas minhas fraquezas” (2Co 12.10); e outros. Paulo aprendeu que a “fraqueza humana proporciona o melhor motivo para a manifestação do poder de Deus”.
 [9] O que mais influenciou a teologia de Paulo não foi sua experiência de conversão, seus estudos etc., mas, sim, a soma de todas as vivências do apóstolo, especialmente sua profissão como artesão, sua origem étnica, suas experiências como prisioneiro e os contatos com os povos das cidades e províncias submetidas ao poderio do império romano.
 [10] Dessa forma, podemos perceber que o contexto em que o apóstolo dos gentios exerceu seu ministério foi determinante para a elaboração das lições que ele deixou escritas em suas cartas, sobretudo as sobre o ministério.
Como prisioneiro teve a possibilidade de tomar conhecimento dos termos jurídicos e forenses da época. Muitos destes termos são usados nas suas cartas para falar da justiça de Deus, falar de castigo, julgamento etc. Como prisioneiro e cidadão romano tiveram a possibilidade de defender-se e assim apresentar o evangelho. Nem sempre gozou do privilégio de cidadão romano, pois ele mesmo afirma que passou por açoites, varadas, sofrimentos diversos nas prisões etc.
A cruz, na pregação de Paulo (1CO 1.18-25), evidencia as fraquezas do apóstolo e a experiência que teve com a mensagem da cruz. Soube entender a mensagem da cruz e descobriu que não podia falar da vida na sua plenitude sem falar da cruz. Neste texto de 1 Coríntios ele declara o significado da cruz para os cristãos.
“É sempre sobre a fraqueza e humilhação humanas, e não sobre a força e confiança do homem, que Deus escolhe edificar seu Reino; e ele pode usar-nos não meramente a despeito de nossa mediocridade, incapacidade e enfermidades desqualificadoras, mas precisamente em virtude delas. É isto uma descoberta emocionante que pode revolucionar nosso panorama missionário.”

As figuras paulinas

11. Ao descrever o ministério missionário, Paulo usa várias figuras. Ele mesmo diz que não escreve para envergonhar, mas sim para admoestar com um pai a seus filhos (1Co 4.14). Diz isso, porque algumas das figuras que usa podem chocar, pois indicam algo sem valor e até desprezíveis para a sociedade.

Cooperadores (1 Co 3.9)
Usa a palavra grega sunergoi, traduzida por cooperadores, que se refere no uso primitivo, aos remadores inferiores das embarcações antigas. Estes remadores inferiores trabalhavam no pavimento inferior, submerso na água, e faziam o movimento de cima para baixo a fim de aliviar o peso do navio, enquanto que os remadores do pavimento superior remavam no nível da água para fazer a embarcação se deslocar. Os do pavimento inferior eram os primeiros a morrer em caso de acidente, normalmente eram os condenados à morte que ocupavam esta função.
No sentido bíblico indica um cooperador, um ajudante, alguém que trabalha junto com um colega e tem o sentido de cooperar, ajudar e promover.
 [12] Usando esta palavra Paulo está a dizer que aqueles que exercem ministérios são “cooperadores de Deus”.

Espetáculo ao mundo (1 Co 4.9)
Usando uma figura comum no mundo romano, Paulo diz que os apóstolos foram colocados como os últimos, como se fossem condenados à morte. A figura espetáculos faz referência às lutas dos gladiadores numa arena, de onde apenas um saía com vida. Normalmente eram escravos ou condenados à morte que lutavam desesperadamente para dar “espetáculo” aos expectadores que se extasiavam vendo homens lutando para não morrer.
A palavra grega é theatron, e indica que os apóstolos estão, numa linguagem figurada, expostos a ridicularização e vergonha
 [13] e que foram colocados em último lugar, como gladiadores condenados à morte.
 [14] Lixo e escória (1 Co 4.13)
As palavras gregas perikátharmata e peripsema indicam, respectivamente, desperdício e refugo, sujeira e escória. A primeira refere-se ao que é removido por uma limpeza total.
 [15] A segunda indica aquilo que foi removido pelo ato de limpar.
 [16] “Os coríntios podiam pretender ocupar um lugar esplêndido, mas Paulo não tinha ilusão quanto ao lugar reservado para gente como ele neste mundo”.
 [17] Estas duas palavras aparecem somente neste versículo e denotam os humildes servos que colocam suas vidas em sacrifício para o bem dos outros e que aceitam a missão e os comprometimentos da missão.

Perfume de Cristo (2 Coríntios 2.15)
Paulo tira esta figura das celebrações pelas vitórias dos generais romanos. Ao entrarem numa cidade como vitoriosos, arrastavam os prisioneiros de guerra. Era comum que o povo recebesse os generais e sua comitiva com incenso e ervas perfumada ao longo da estrada, sendo que para os vitoriosos era perfume de vida e para os perdedores era aroma de morte, pois seriam condenados à morte ao final do cortejo triunfal.
 [18] Aplicando ao ministério dos apóstolos, podemos entender que eram perfumes de vida para aqueles que acolhiam o evangelho que anunciavam e de morte para aqueles que rejeitavam a mensagem das boas novas, optando pelas práticas da velha vida.

Vaso de Barro (2 Coríntios 4.7)
A palavra “vaso” pode ser traduzida por prato, utensílio, instrumento, deixando de forma bem clara o pensamento do apóstolo.
Os instrumentos de barro para os povos do passado representavam a fragilidade diante de utensílios de metais e ferro. Os instrumentos de barro eram usados para todo tipo de trabalho. Por que Paulo usa esta figura? Porque quer mostrar que o “tesouro”, o poder de Deus se manifesta em vasos de barro, e não de ferro ou ouro. A Glória de Deus se manifesta justamente por meio de instrumentos vis e frágeis.
As tribulações que Paulo enfrentou (descritas em 2Co 4.7-11, 11.24-30, 6.4-5 e 12.7-10; Rm 8.35, 1Co 4.9-13), são evidências desta fragilidade e do poder de Deus que se aperfeiçoa na fraqueza do instrumento usado (2Co 12.9). Em outras palavras, as tribulações servem para ensinar ao “vaso de barro” a sua fragilidade e para que confie em Deus, não em si mesmo, pois prejudicaria a pregação do evangelho.
Depois Paulo passa a descrever algumas circunstâncias do “vaso de barro”: atribulados, abatidos, perplexos, perseguidos, levando em si os sinais da morte de Cristo. Mas, por ser de barro e dependente da graça de Deus: não angustiados, não desamparados, não desanimados, não destruídos, levando em si os sinais da vida de Cristo. Isto é que confunde os que pensam que são fortes. De vasos de barro Deus faz refletir a Sua Glória, o Seu Poder, a Sua Grandeza etc.

Tenda, casa de lona (2 Coríntios 5.1).
O apóstolo Paulo menciona a casa terrestre ao referir-se ao Tabernáculo, ou seja, a casa de lona (5.1). A palavra traduzida por Tabernáculo tem o sentido de tenda, barraca. Paulo usa uma figura comum e passageira para se referir à vida dos cristãos. A tenda não tinha tanta durabilidade e precisava ser substituída seguidamente. Quer mostrar que a glória não está na “tenda”, mas no altar de Deus, ou naquilo que Deus pode fazer com uma “casa de lona”.
Com esta figura, o apóstolo quer dizer que o cristão deve estar sempre disposto e preparado para atender ao chamado de Deus e ao envio missionário. Nada há que prenda esta “casa de lona” de servir ao Senhor. O único revestimento permanente na vida do cristão é o fruto do Espírito Santo. O apóstolo Paulo aprendeu e ensinou a Igreja que o cristão, sendo passageiro e frágil, tem o penhor do Espírito de Deus (2 Co 5.5).

Espinho na carne (2 Coríntios 12.7)
O espinho na carne era para que o apóstolo se lembrasse das suas fraquezas. As fraquezas de Paulo podem ser divididas em quatro espécies: humilhações (11.23-26); necessidades (11.27); perseguições (11.23-25) e angústias (11.28).
 [19] Com o espinho na carne o apóstolo aprendeu uma grande lição: ter prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias (12.10), pois o poder é de Deus e não dos apóstolos. O espinho na carne indica algum tipo de doença que não impedia que o apóstolo cumprisse com seu ministério.
 [20] Servo de Cristo (Filipenses 1.1)
A palavra usada é doulos, que significa, de forma literal, o escravo. Com esta expressão o apóstolo afirma que não é mais dono da sua vida, mas, sim, escravo de Cristo.

A vocação de Paulo
Em três textos do livro de Atos dos Apóstolos encontramos o relato e as implicações da vocação de Paulo. O relato nos faz refletir sobre nossa vocação e as implicações que ela nos apresenta.

Liturgia da vocação – Atos 9.1-19

Encontramos no presente texto o que poderíamos chamar de a “liturgia da vocação”. Com liturgia queremos falar de momentos específicos na experiência cristã de Paulo.

Primeiro momento: execução dos projetos pessoais (9.1-3)
Paulo seguia o caminho que havia escolhido; no caso, prender seguidores de Jesus Cristo. Para ele estes seguidores eram hereges e precisavam ser detidos de qualquer maneira. Antes de seguir para Damasco, prendeu e convenceu os juízes a condenarem um jovem chamado Estêvão, filho de família proeminente em Israel e conhecidos da família de Paulo. O plano de Paulo é interrompido quando uma luz estranha brilha à sua frente.

Segundo momento: Experiência com o “Eu Sou” (9.4-9)
No momento em que Paulo encontra-se munido de ofícios que lhe permitiam prender aos cristãos, tem a sua experiência de conversão. Paulo não entendia o que estava acontecendo. Nem seus amigos conseguiram identificar aquela luz. Observando a luz que o cegava prostrou-se em terra, assombrado com o fato. Alguns momentos depois da experiência, Paulo soube quem estava por trás daquela luz: Eu Sou (v. 5). Ele não conhecia a Jesus Cristo, a não ser pelas notícias que recebeu. Talvez tenha visto Jesus de longe quando era ainda um peregrino em Jerusalém. Mas, Paulo conhecia o Eu Sou. Sabia que a Luz era coisa de Deus. Até então se achava zeloso pelas coisas de Deus, na perspectiva em que ele havia sido educado, e bem educado, no caso a lei judaica. |
Terceiro momento: A experiência do chamado (9.10-16)
Deus fala com Ananias que Paulo era um “vaso escolhido”. Com “vaso escolhido” quer indicar o barro nas mãos do oleiro sendo preparado para ser um instrumento útil. Paulo, apesar de toda sua formação e experiência, era como um vaso sendo moldado pelo artista. Era um vaso de barro. Significava que não era nada diante do tesouro que carregaria e do poder do artista que modelava este vaso.

Quarto momento: Aprender com os discípulos (19.17-19)
Havia certa resistência com respeito a Paulo. A igreja ficou desconfiada por muitos anos. Paulo era perseguidor e agora se apresenta convertido. Para ser aceito e conhecido precisou permanecer e aprender com os discípulos. Por dez anos ficou em Tarso aprendendo com os irmãos.

Definição da vocação – Atos 22.1-21

Vejamos os aspectos teológicos presentes no relato de Paulo, segundo o capítulo 22. Na verdade são 3 lições que o apóstolo tirou da sua experiência de vocação:

A vontade de Deus pode não ser a vontade da pessoa (22.1-5)
Nestes versos Paulo destaca três etapas na sua vida: nascimento, infância e educação. No início de sua vida recebeu influência romana, vivendo e estudando num grande centro do império na época: Tarso. Na segunda etapa viveu na Palestina, na cidade de Jerusalém, onde foi influenciado pelo Judaísmo e na terceira aprendeu aos pés de Gamaliel, quando se apropriou do fanatismo judaico no cumprimento da lei farisaica.
Paulo foi autorizado pelo Sinédrio para realizar tal missão por toda a Palestina. Assim, prendeu muitos cristãos e consentiu com a morte destes. Paulo achava-se um cumpridor fervoroso da lei judaica. Durante muitos anos viveu na expectativa de receber uma missão de Deus e julgou que esta missão era prender os seguidores do Nazareno.

A vontade de Deus era diferente daquilo que Paulo imaginara (22.6-16)
Nestes versos Paulo relata o momento dramático pelo qual viveu. Ele descobriu que estava equivocado na sua compreensão sobre a vontade de Deus e que, ao perseguir os cristãos, estava perseguindo ao próprio Deus, a quem amava e servia zelosa e incansavelmente.

O vocacionado serve onde Deus quer (22.17-21)
Nestes versos relatados pelo próprio Paulo – daí a sua importância – o apóstolo conta que pretendia ficar em Jerusalém, ser testemunha nesta cidade e aproveitar o respeito que gozava entre os judeus. Mas, no plano de Deus deveria ser testemunha entre os judeus e em outros lugares. Paulo insiste com Jerusalém, mas Deus insiste com os gentios. Paulo está aprendendo a submissão total a Deus.

Visão celestial – Atos 26.19
No seu discurso perante o rei Agripa, Paulo resume seu ministério e sua vocação numa simples frase, mas que diz muito: foi fiel à visão celestial que recebeu de Deus. Podemos destacar duas ênfases neste versículo: A vocação é como uma visão que Deus dá ao vocacionado e a vocação exige fidelidade a esta visão dada por Deus.



PRIMEIRAS VIAGENS APÓS A CONVERSÃO
Na epístola aos Gálatas 1, Paulo apresenta seu itinerário após a conversão para mostrar que não aprendeu de nenhum apóstolo à doutrina cristã:
Damasco (At.9.8)
Deserto da Arábia – Gl. 1.17
Damasco – Gl 1.17
Jerusalém – 3 anos depois da conversão, onde esteve 15 dias com Pedro – Gl. 1.18. Seu objetivo nesse ponto era deixar claro que não esteve com Pedro tempo suficiente para aprender com ele as doutrinas do cristianismo.
Síria e Cilícia - Gl. 1.21 – Esteve, por aproximadamente 10 anos, morando em sua cidade natal, Tarso. Talvez tenha passado esse período sozinho. Tinha sido rejeitado pela família, pelos judeus e encontrava dificuldades entre os cristãos, pois estes tinham receio dele. Por suas epístolas, entendemos que muitos não aceitavam seu apostolado pelo fato de não ter vivido com Jesus. Em Atos 1, na hora de escolher o substituto de Judas Iscariotes, Pedro apresentou os requisitos: o candidato deveria ter acompanhado Jesus desde o batismo de João até a ressurreição (At.1.21-22). Portanto, se Paulo estivesse ali, não seria escolhido para ser apóstolo.
Antioquia – Por fim, Barnabé foi até Tarso à procura de Paulo e logo depois o conduziu a Antioquia da Síria, onde passou a participar da igreja (At.11.25-26). Antioquia foi o oásis de Paulo. Barnabé foi aquele irmão de que Paulo tanto necessitava para introduzi-lo no convívio cristão. Em Antioquia Paulo permaneceu um ano.
Jerusalém – Depois disso, Paulo foi a Jerusalém com Barnabé e Tito a fim de levar a ajuda enviada pelos irmãos de Antioquia (At.11.27-30). Era então o ano 47 ou 48, 14 anos depois de sua conversão, conforme Gálatas 1.18.
Antioquia – Paulo volta para Antioquia, que passou a ser um tipo de "quartel-general".
De acordo com os Atos e as epístolas, entendemos que Paulo era um homem muito instruído, tanto em relação ao judaísmo quanto na filosofia grega. Contudo, seu conhecimento espiritual sobre os mistérios de Deus sobrepujava a tudo isso. Era também homem impetuoso, disposto e extremamente zeloso em tudo.

A EVANGELIZAÇÃO DOS GENTIOS.
Pedro iniciou a evangelização dos gentios em Atos 10, mas isso não foi algo natural para ele que era um judeu de Jerusalém. Somente após um arrebatamento, uma visão e uma palavra direta de Deus, é que Pedro admitiu a idéia de pregar aos gentios. Paulo, porém, era um judeu romano. Isso facilitava sua visão rumo aos povos não judeus. Deus o escolheu para essa missão: ser apóstolo aos gentios (At.22.21; Gál. 2.2,8).
Nas cidades em que chegava Paulo normalmente ia primeiro às sinagogas (At.13.13-14, 42-48; 14.1; 17.1-2). Ainda não havia igrejas ou templos cristãos nesses lugares. Por outro lado, ele ainda honrava os judeus com a primazia no anúncio da fé cristã. Entretanto, eles não viam por essa ótica. As pregações nas sinagogas terminavam com a revolta dos judeus. Paulo era expulso, agredido e muitos queriam até apedrejá-lo. Desse modo, ocorria um escândalo em público, mas a essa altura, alguns judeus já havia se convertido. Até as disputas em praça pública eram proveitosas para que os gentios ouvissem a palavra de Deus. Com esse grupo de convertidos se formava a igreja e as reuniões mudavam de local (At.18.4-7).

PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA – entre os anos 47 e 49 (At.13 e 14)
Paulo esteve durante algum tempo participando da igreja em Antioquia. Esta cidade era muito importante. Chegaram a ser uma grande metrópole ainda nos tempos dos reis gregos da Síria, os selêucidas. Após a conquista por Roma, continuou como capital da província e ali se encontravam os governadores romanos. Era bela, com muitos palácios e templos, dentre os quais se destacava o Santuário de Apolo. Nessa cidade havia uma grande colônia judaica, correspondendo à sétima parte da população.
Estando reunido com os irmãos em Antioquia, Paulo recebeu uma direção do Espírito Santo para empreender sua primeira viagem missionária juntamente com Barnabé. Partiram então, levando João Marcos.
Eis o roteiro da primeira viagem missionária de Paulo: Antioquia da Síria; Ilha de Chipre (Salamina e Pafos); Antioquia da Pisídia; Icônio, Listra, Derbe; Perge; Antioquia da Síria.
No meio da viagem, Marcos abandonou o grupo e voltou para Jerusalém. Por esse motivo, Paulo não quis levá-lo em sua próxima viagem (At.13.13).

TERCEIRA VISITA A JERUSALÉM
Após a primeira viagem missionária, Paulo faz sua terceira visita a Jerusalém, por volta do ano 49. Nessa oportunidade ocorre a famosa discussão dos apóstolos sobre o que deveria ser exigido dos gentios convertidos no que se refere à observância da lei mosaica. (At.15)

SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA
Entre os anos 50 e 52 d.C. (At.15.40 a 18.22)
Terminado o concílio de Jerusalém (At.15), Paulo e Barnabé voltaram para Antioquia, levando consigo Judas, chamado Barsabás, e Silas. Alguns dias depois (At.15.36), Paulo inicia sua segunda viagem missionária, em companhia de Silas, com o principal propósito de visitar as igrejas estabelecidas nas cidades anteriormente visitadas.
Eis o roteiro da segunda viagem: Antioquia da Síria; Cilícia; Listra; Frígia; Galácia; Trôade; Macedônia/Grécia: Filipos; Tessalônica; Beréia; Acaia; Atenas; Corinto; Éfeso; Jerusalém; Antioquia da Síria.
Em Listra, Timóteo entrou na equipe de Paulo. Em Trôade foi à vez do médico Lucas. Paulo ficou um ano e meio em Corinto, ocasião em que estabeleceu a igreja. Daí escreveu aos Tessalonicenses.

TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA53 a 58 d.C. (At.18.23 a 20.38).
Tendo ficado "algum tempo" em Antioquia (At.18.23), Paulo parte para sua terceira viagem missionária.
O apóstolo mudou então sua "base" para Éfeso, que passa a ser sua cidade de retorno. Ali esteve durante dois anos (At.19.10). O versículo mencionado diz que toda a Ásia foi evangelizada naquele período. Portanto, parecem certo que Paulo fez diversas viagens às cidades da Ásia Menor, voltando sempre para Éfeso.
O itinerário da terceira viagem foi: Antioquia da Síria, Galácia, Frígia, Éfeso, Macedônia, Grécia, Trôade, Mileto, Tiro e Cesaréia. 


VIAGEM A JERUSALÉM
Percebe-se na história de Paulo seu amor pelo seu povo e pela cidade de Jerusalém (At.20.16). Agora, esse amor se dirigia, mais especialmente, aos cristãos daquela cidade. Ali chegando, o apóstolo foi recebido com alegria pelos irmãos. Vinha trazendo uma oferta para eles (I Cor. 16.3; II Cor. 9; Rom. 15.25; At.21.17). Afinal, todo o receio contra o ex-perseguidor estava dissipado. A igreja havia finalmente abraçado o apóstolo. Contudo, a fúria dos judeus continuava crescendo contra aquele que consideravam um traidor da pátria e da religião judaica. Com esse espírito de ódio, os judeus prenderam Paulo em Jerusalém e o espancaram. O grande tumulto que se formou chamou a atenção das autoridades romanas, que prenderam Paulo. Aproveitando a oportunidade, o apóstolo pediu para falar à multidão que se ajuntou. Nesse momento, ele deu seu testemunho de conversão até ser interrompido por aqueles que queriam sua morte (At.22.1-22).
Em grego Paulos, derivado do latim Paulus, que quer dizer pequeno. Apóstolos, mesmo até depois da conversão de Sérgio Paulo, procônsul de Chipre, At 13: 9. Daqui em diante, só tem o nome de Paulo, que ele a si mesmo dá em todas a.
Nome do grande apóstolo dos gentios. O nome judaico anterior era Saulo; no hebreu Shaul, no grego, Saulos; assim denominado nos Atos dos s suas cartas. Não é de estranhar que alguns pensem que tomou este nome do procônsul Sérgio. Isto, porém, não é de modo algum aceitável, tendo em vista o modo gentil pelo qual S. Lucas o apresenta, dando-lhe o nome de Paulo, quando começou a sua obra de apóstolo das gentes. É mais provável que, acompanhando o costume de muitos judeus, At 1: 23; 12: 12; Cl 4: 11, e principalmente os judeus da dispersão, o apóstolo usasse de ambos os nomes. Havia nascido em Tarso, cidade principal da Cilícia, At 9: 11; 21: 39; 22: 3, e pertencia à tribo de Benjamim, Fp 3: 5. Não se sabe como é que a sua família foi residir em Tarso. Uma antiga tradição afirma que ele havia sido levado de Giscala em Galiléia, pelos romanos, depois que tomaram este último lugar. É possível, pois, que a família de Saulo em tempos anteriores, tivesse fixado residência em Tarso, com alguma das colônias que os reis da Síria estabeleceram ali (Ramsay, St. Paul the Traveler, p. 31) ou que tivesse imigrado voluntariamente, como faziam muitos judeus por motivos de ordem comercial. Parece que S. Paulo tinha relações familiares de alto valor e de grande influência. Em Rm 16: 7, 11, mandam saudar a três pessoas, seus parentes, das quais Andrônico e Júnias, que se haviam assinalado entre os apóstolos e que foram cristãos primeiro que ele. Pela leitura de At 23: 16 sabe-se que "um filho de sua irmã" que provavelmente morava em Jerusalém com sua mãe, deu informações ao tribuno sobre a conspiração tramada contra a vida de S. Paulo. Dá isto a entender que este moço pertencia a alguma das famílias importantes da cidade, o que parece confirmado pelo fato de Paulo haver presidido à morte de Estevão. É provável que já fosse membro do concílio, At 26: 10, pois que não tardou a receber comissão do sumo sacerdote para perseguir os cristãos, 9: 1 2; 22: 5. Os seus dizeres na epístola aos filipenses 3: 4-7, autorizam-nos a crer que ocupava posição de grande influência que lhe dava margem para conseguir lucros e grandes honras. As suas relações de família não podiam ser obscuras. Apesar de receber uma educação subordinada às tradições e às doutrinas da fé hebraica, e de ter pai fariseu, At 23: 6, ele era cidadão romano. Ignora-se por que meios havia alcançado este privilégio; teria sido por serviços prestados ao estado ou talvez por compra, e pode bem ser que o nome Paulo tenha alguma relação com o título de cidadão romano. De qualquer modo que seja, dava-lhe grande importância na seqüência de seu trabalho cristão, e serviu mais de uma vez para salvar-lhe a vida. Tarso era centro intelectual do oriente onde existia uma escola famosa e onde dominava a filosofia estóica. É possível que Paulo crescesse ali sob estas influências. Seus pais, sendo como eram fiéis à lei mosaica, o mandaram logo para Jerusalém para ser educado lá. À semelhança de outros rapazes da mesma raça, tinha de aprender um ofício, que, no seu caso, foi o de fazedor de tendas, das que se usavam nas viagens, 18: 3. Como ele mesmo diz 22: 3 foi educado em Jerusalém, para onde o mandaram, quando muito jovem. A educação consistia principalmente em fixar nele as tradições farisaicas. "Foi instruído conforme a verdade da lei de seus pais", ibid. Teve como preceptor, um dos mais sábios e notáveis rabinos daquele tempo, o grande Gamaliel, neto do ainda mais famoso Hilel. Foi este Gamaliel, cujo discurso se contém nos Atos dos Apóstolos 5: 34-39, que aconselhou o sanedrim a não tentar contra a vida dos apóstolos. Este Camaliel possuía alguma cousa estranha ao espírito farisaico, a qual se avizinhava da cultura grega. O seu discurso já referido demonstra que ele não possuía o espírito intolerante e perseguidor, característico da seita dos fariseus. Celebrizaram-se por seus vastos conhecimentos rabínicos.  A seus pés o jovem Saulo, vindo de Tarso, recebeu as lições sobre os ensinos do Antigo Testamento, porém já se vê, de acordo com as subtilezas e interpretações dos doutores que acenderam no espírito ardente do jovem discípulo, um zelo feroz para defender as tradições de seus antepassados. Assim, pois, o futuro apóstolo tornou-se fariseu zeloso, disciplinado nas idéias religiosas e intelectuais de seu povo.  Por este modo, as suas qualidades pessoais, o seu preparo intelectual, e, talvez ainda, as relações de família, preparavam-lhe posição de destaque na sociedade judaica.
Aparece no cenário da história cristã, como presidente da execução de Estevão, o protomártir do Cristianismo, a cujos pés as testemunhas depuseram suas vestimentas, At 7: 58, quando ainda mocho. A sua posição neste caso, não queria dizer que estivesse investido de funções oficiais. De acordo com os dizeres da passagem referida acima, ele apenas era consenti dor na morte de Estevão.
            Contudo, vê-se claramente que perseguia com ardor os primeiros cristãos. Sem dúvida entrava no número daqueles helenistas ou judeus que falavam o grego, mencionados nos Atos dos Apóstolos, 6: 9, que promoveram a acusação contra Estevão. Não erramos dizendo que o ódio de Paulo contra a nova seita já estava aceso; não só desprezava o crucificado Messias, como considerava os seus discípulos um elemento perigoso, tanto para a religião como para o Estado. Não é para admirar, pois, que fosse tão feroz o seu ódio a ponto de promover-lhes o extermínio pela morte. Logo após o martírio de Estevão, tomou parte ativa, dirigindo o movimento de perseguição contra os cristãos, At 8: 2 3; 22: 4; 26: 10 11; 1 Co 15: 9; Gl1: 13; Fp 3: 6; 1 Tm 1: 13. Fazia tudo isto guiado por uma consciência mal informada. Era o tipo do inquisidor religioso. Não satisfeito com a perseguição devastadora que fazia em Jerusalém, pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes para as sinagogas de Damasco com o fim de levar presos para Jerusalém quantos achasse desta profissão, At 9: 1 2. Os romanos davam largos poderes aos judeus para exercerem a sua administração interna. O governador de Damasco que obedecia à direção do rei Aretas, era particularmente favorável aos judeus, 9: 23 24; 2 Co 11: 32, favorecendo por este modo a perseguição de Paulo aos cristãos.
  Nota importante a observar, segundo o testemunho expresso de S. Lucas e do próprio S. Paulo, é que respirava ameaças de morte contra os discípulos de Jesus até ao momento da sua conversão, crendo que assim fazendo, prestava grande serviço a Deus. Não tinha dúvida quanto à justiça da sua empresa, nem sentia desfalecimento de coração para executá-la.
            Foi no caminho de Damasco que se deu à repentina conversão. Paulo e seus companheiros provavelmente iam a cavalo, como era costume nas viagens pelos caminhos desertos da Galiléia, para a antiga cidade. Estavam perto da cidade. Era meio-dia, o sol ardente estava no seu zênite, At 26:13. Repentinamente, uma luz vinda do céu, mais brilhante que a luz do sol, caiu sobre eles, derrubando-os, 14. Todos se ergueram, continuando Paulo prostrado por terra, 9: 7. Ouviu-se então uma voz que dizia em língua hebraica: "Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra o aguilhão", 26: 14. Respondeu ele então: "Quem és tu, Senhor?" Ele respondeu: "Eu sou Jesus a quem tu persegues 15. Levanta-te e vai à cidade e aí se te dirá o que te convém fazer", 9: 6; 22: 10. Os companheiros que o seguiam ouviam a voz sem nada ver, 9: 7, nem entender, 22: 9. Paulo sentiu-se cego pelo intenso clarão da luz, e foi conduzido pela mão dos companheiros, entrou em Damasco, hospedou-se na casa de Judas, 9:11, onde permaneceu três dias sem vista e sem comer, nem beber, orando, 9, 11, e meditando sobre a revelação que Deus lhe fizera. Ao terceiro dia, o Senhor mandou a certo judeu convertido, chamado Ananias, que fosse ter com Paulo e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.
  O Senhor garantiu o Ananias, o qual tinha receio de encontrar-se com o grande perseguidor, que este quando em oração, já o tinha visto aproximar-se dele. Portanto, Ananias obedeceu. Paulo confessou a sua fé em Jesus, recobrou a vista, e recebeu o batismo; e daqui em diante, com a energia que o caracterizava, e com grande espanto dos judeus, começou a pregar nas sinagogas que Jesus era o Cristo, Filho de Deus vivo 9: 10-22. Tal é a narrativa da conversão de Saulo de Tarso. Há três narrativas deste fato nos Atos; uma feita por S. Lucas, 9: 3-22, outra pelo próprio S. Paulo, diante dos judeus, 22: 1-16, e outra pelo mesmo S. Paulo, diante de Festo e Agripa, 26: 1-20. As três narrativas combinam-se entre si, posto que nem todos os incidentes se achem em cada uma delas. Em todo caso, cada uma foi escrita com referência ao fim que o narrador tinha em vista. Em suas epístolas, o apóstolo alude freqüentemente à sua conversão, atribuindo-a a graça e poder de Deus, ainda que a não descreva em minúcias, 1 Co 9: 1-16; 15: 8-10; Gl 1: 12-16; Ef 3:1-8 Fp 3: 5-7; 1 Tm 1: 12-16; 2 Tm 1: 9-11. Este fato, pois, é atestado pelo testemunho mais forte possível. É certo também que Jesus, não somente falou a Paulo, mas também lhe apareceu, At 9: 17 27; 22: 14; 26: 16; 1 Co 9: 1. Não se diz de que forma; com certeza foi de modo tão glorioso, que o apóstolo conheceu logo no Jesus crucificado, o Cristo, Filho do Deus Vivo que lhe falava; e ele chama a isto, "visão celestial" At 26: 19, ou um espetáculo, palavra esta empregada em Lc 1: 22; 24: 23, para descrever o aparecimento de entes celestiais. Não há lugar para dizer-se que seja ilusão de qualquer espécie. Contudo, o aparecimento de Cristo não foi à causa da conversão de Saulo, e, sim a obra do Espírito Santo no coração, habilitando-o a receber e aceitar a verdade que lhe havia sido revelada, Gl 1: 15. Foi o mesmo Espírito que convenceu o Ananias e que o levou a impor as mãos e a unir à igreja nascente, o novo convertido. Vários racionalistas pretendem explicar a conversão de Paulo, sem tomar em conta a intervenção sobrenatural; essas opiniões são destruídas pelo testemunho do mesmo Paulo. Afirmando a sua atitude de perseguidor, obedecia a motivos de consciência e que a sua mudança era devida ao soberano exercício do poder de Deus e à sua graça infinita. A frase "Dura cousa é recalcitrares contra o aguilhão", não quer dizer que ele agia contra a sua vontade ou que já reconhecia a verdade do Cristianismo, quer dizer antes que era insensatez resistir aos propósitos divinos. A sua vida anterior deve ser reconhecida como um período de iniciação inconsciente para a sua missão futura.
Os foros de cidadão romano, a instrução recebida nas escolas, as suas qualidades pessoais, tudo isto serviu para fazer dele um instrumento especial para a obra missionária. Há motivos para crer que o seu espírito não tinha paz na prática do Judaísmo, Rm 7: 7-25. Se assim não fora, não chegaria a compreender claramente que a salvação somente se alcança por meio da graça de Deus em Cristo. A sua experiência religiosa também teve o efeito de prepará-lo para ser grande expositor da doutrina da justificação pelos méritos de Cristo, alcançados somente pela fé. Após a sua conversão, Paulo deu início à obra da evangelização; em parte graças à sua natural energia, e também por haver Deus revelado que ele ia ser vaso escolhido para levar o seu nome diante das gentes, dos reis e dos filhos de Israel, isto é, missionário e apóstolo, At 9: 15; 26: 16-20; Gl 1: 15 16. Começou a sua obra nas sinagogas de Damasco com muito bom êxito, provocando contra si a perseguição dos judeus de Damasco, auxiliados pelo governador da cidade, 2 Co 11: 32, de modo que foi preciso fugir. Os discípulos, de noite, o deslizaram pela muralha da cidade, metendo-o numa alcôfa, At 9: 23-25; 2 Co 11: 33. Em vez de regressar a Jerusalém, dirigiu-se para a Arábia e de lá voltou a Damasco, Gl 1: 17.  Não se sabe em que lugar da Arábia ele esteve, nem quanto tempo lá se demorou, nem o que foi fazer naquele lugar. Presume-se que meditasse sobre os grandes acontecimentos de sua vida religiosa e das revelações que Deus lhe havia feito. Três anos depois da sua conversão, determinou sair de Damasco e ir outra vez a Jerusalém. Diz-nos ele que o principal objetivo desta viagem foi visitar a Pedro, Gl 1: 18, 19, demorando-se com ele quinze dias não tendo visto mais nenhum dos apóstolos senão a Tiago, irmão do Senhor. S. Lucas menciona mais alguns particulares, At 9: 26-29. A igreja de Jerusalém teve medo dele, não acreditando que agora fosse discípulo de Cristo. Foi necessário que Barnabé o levasse consigo e o apresentasse aos apóstolos, contando como havia visto ao Senhor e como depois em Damasco ele se portou com toda a liberdade em nome de Jesus.
  Diz ainda S. Lucas que Paulo pregava em Jerusalém com o mesmo desassombro como havia feito em Damasco, empregando seus esforços para a conversão de seus velhos amigos e compatriotas, que falavam o grego, 9: 28 29. Como em Damasco, estes também conspiraram contra ele. A situação ameaçadora e perigosa em que se achava, fez com que os irmãos o conduzissem a Cesaréia e dali para Tarso, 29, 30; Gl 1: 21.  Saiu mais depressa de Jerusalém, por haver tido uma visão no templo, na qual o Senhor lhe ordenou que sem detença se afastasse dali para ir às nações de longe, At 22: 17-21. As duas notícias sobre esta visita a Jerusalém, que se encontram nos Atos o na carta aos Gálatas, parecem inconsistentes, porém, harmonizam-se naturalmente. É muitíssimo provável que Paulo quisesse visitar a Pedro a fim de que o trabalho que lhe estava destinado fosse feito em harmonia com os primitivos apóstolos, dos quais Pedro se destacava. É igualmente provável que os cristãos de Jerusalém, a princípio, se arreceassem dele, e que o proceder de Barnabé, que era como Paulo, helenista judeu, fosse recebido com algumas reservas. Além disso, quinze dias de estada na cidade, é tempo suficiente para os acontecimentos descritos nos Atos. A ordem do Senhor para que Paulo deixasse logo a cidade, são de fato confirmada, 22: 18. A notícia que S. Lucas dá de que Barnabé apresentou Paulo aos apóstolos, não contradiz a afirmação de Paulo de que somente viu a Pedro e Tiago. A recepção feita ao novo converso pelo apóstolo S. Pedro, para não falar também de Tiago que ocupava posição quase apostólica, Gl 2: 9 equivaliam ao oficial do novo apóstolo, e é isto mesmo que S. Lucas queria significar. É ainda digno de nota que achava completamente confirmado, tanto por parte de S. Paulo como dos irmãos principais de Jerusalém, que o novo converso havia sido escolhidos apóstolo, e que a sua missão iria ser entre os gentios. Nesta ocasião se cogitava das relações dos gentios convertidos para com a lei mosaica. Ninguém poderia ainda avaliar a importância e a extensão da obra de Paulo. Contudo foi ele reconhecido como tal e enviado a Tarso para iniciar a seu trabalho.
  A demora dele nesta cidade é quase um enigma; parece que foi de seis ou sete anos (veja a cronologia abaixo), durante os quais se ocupou de evangelização e provavelmente fundou as igrejas da Cilícia, incidentalmente referidas em At 15: 41. Se alguma vez sentiu a influência intelectual de Tarso, esta devia ser-lhe muito propícia. Como já foi dito, Tarso era um dos centros da filosofia estóica. Em seu discurso em Atenas, São Paulo faz apreciações sobre esta escola, suficientes a satisfazer a nossa curiosidade. Ainda que em atividade, Paulo aguardava as indicações providenciais sobre o caminho que devia tomar no serviço do Mestre. Finalmente começaram a aparecer. Alguns dos judeus convertidos que falavam a língua grega, que haviam saído de Jerusalém, fugindo à perseguição que se seguiu à morte de Estevão, chegaram à grande cidade de Antioquia da Síria, situada às margens do Orontes, ao norte da cordilheira do Líbano. Tinha sido capital do reino e era naquele tempo, a residência oficial do governador romano da província. Era contada entre cidades principais do império, por causa de sua população mista e da extensão de seu comércio.
  Situada fora dos limites da Palestina, e às portas da Ásia Menor, ligada também pelo tráfego e pela política com todo o império, servia de base natural de operações, de onde a nova fé, separada do judaísmo sairia à conquista do mundo. Nesta cidade, os cristãos refugiados começaram a pregar aos gentios, At 11: 20. Há uma dificuldade no texto original para determinar com clareza se era mesmo aos gentios que eles pregavam; mas no contexto não há lugar a dúvidas. Muitos gentios se converteram ali de modo a formarem uma igreja gentílica na metrópole da Síria.
  Quando a notícia chegou a Jerusalém, enviaram lá a Barnabé para investigar o caso. Claramente descobriu a mão de Deus neste movimento, não obstante serem os recém-convertidos incircuncidados. Parece que ele também percebeu que Deus estava abrindo a porta aos trabalhos de Paulo, porque dali foi buscá-lo a Tarso e levou-o para Antioquia. Ambos trabalharam naquela cidade um ano inteira. Muitos outros gentios se converteram, de modo que a nova igreja, sem vestígios de judaísmo, foi denominada dos cristãos pelos habitantes gentios da cidade. Começaram por este modo as relações do apóstolo com Antioquia. Nas páginas da história foi registrada a primeira igreja cristã formada de elementos gentílicos, ponto de partida para a obra de S. Paulo no mundo pagão.
  Quando S. Paulo estava em Antioquia, um profeta por nome Ágabo, vindo da Judéia, predisse na assembléia dos cristãos, que em breve haveria uma grande fome na terra. Serviu esta profecia de motivo para que os irmãos manifestassem o seu extremado amor para com os cristãos da Judéia. Este fato é prova notável do sentimento de obrigação destes gentios para com àqueles de quem haviam recebido a nova fé, e também para mostrar quão depressa haviam sido destruídos os muros de inimizade que separava as raças e as classes.  Em Antioquia fizeram-se logo contribuições para aliviar as necessidades dos irmãos da Judéia enviadas por mão de Barnabé e de Saulo, At 11: 29 30. Esta visita de S. Paulo a Jerusalém deveria ser no ano 44, ou pouco antes, e a ela não se refere na sua epístola aos Gálatas, talvez por não tiver visto nenhum dos apóstolos.   Alguns escritores tentaram identificar esta visita com a que se acha mencionada em Gl 2:1-10; porém deu-se esta depois de discutida a circuncisão dos gentios, como se depreende de At 15: 1.
 O propósito de Paulo, na epístola aos Gálatas, foi o de contar de novo às oportunidades que ele havia tido, de obter a confirmação de seu evangelho pelos apóstolos mais velhos, e se nesta ocasião, como diz S. Lucas, ele encontrou somente os anciãos da igreja, a sua rápida visita era de simples caridade.
 O seu argumento na carta aos Gálatas não exigia menção desta viagem. Barnabé e Paulo voltaram novamente a Antioquia, levando consigo a João Marcos, 12: 25.
Havia chegado o tempo de iniciar a história missionária da evangelização dos gentios, indicada pelo Espírito aos profetas pertencentes à igreja de Antioquia, At 13: 1-3, os quais, por ordem divina separam a Barnabé e a Paulo esta obra a que Deus os havia chamado. Obedecendo à direção divina e sob os auspícios da igreja de Antioquia, o apóstolo principiou a primeira viagem missionária, sem podermos determinar a data, que deveria ser entre 45 e 50, ou 46 e 48, e sem sabermos quanto tempo durou. Barnabé que era o mais velho dirigia o movimento, mas Paulo, em breve, ocupou o primeiro lugar por causa de seus dotes oratórios. João Marcos entrou nesta comissão. Saíram de Antioquia para Selêucida, situada na foz do Orontes e dali para Chipre, pátria de Barnabé. Desembarcando em Salamina, na costa de Chipre, começaram a trabalhar como de costume, nas sinagogas. Percorreram toda a ilha até chegarem a Pafos na costa sudoeste. Neste lugar, despertaram a atenção de Sérgio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro, com violenta oposição, um feiticeiro judeu, chamado Bar Jesus, também conhecido por Elimas, o mago que previamente havia conseguido a proteção do procônsul, At 13: 6 7. Paulo resistiu-lhe indignado e repreendeu-o severamente, e feriu-o de cegueira. Resultou disto a conversão de Sérgio Paulo, 8-12. Partindo de Chipre, o grupo de missionários de que Paulo era agora o chefe, 13, navegaram para a Ásia Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali João Marcos, por motivos ignorados, deixou os seus companheiros e regressou a Jerusalém. Os dois, Paulo e Barnabé, não se detiveram em Perge, dirigiram-se para o norte, chegaram a Frigia e foram até Antioquia da Pisídia.
  Esta era a cidade principal da província romana de Galácia. Entraram na sinagoga judaica, e a convite dos chefes da sinagoga, proferiu o grande discurso, registrado, em At 13: 16-41, primeiro espécime de sua pregação de que há notícia. Depois de narrar a missão dos chefes de Israel, com vistas ao Messias, que tinha de vir, falou do testemunho de João Batista e do modo por que Jesus foi rejeitado pelos judeus; declarou que Deus o havia ressuscitado dentre os mortos, cumprindo na sua pessoa as promessas feitas a Israel pelos antigos e que, somente pela fé nele, os homens podem ser justificados. Admoestou os judeus a não repetirem o crime cometido pelas autoridades de Jerusalém. Este discurso fomentou a odiosidade dos judeus, mas impressionou a alguns outros e ainda mais aos gentios que já estavam sob a influência da sinagoga e formavam o laço de união entre esta e o mundo gentílico para o trabalho de S. Paulo. No sábado seguinte deu-se o rompimento entre a sinagoga e os missionários cristãos, de modo que estes passaram a dirigir-se aos gentios. O povo da cidade, excitado pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e os lançaram fora, At 13: 50.
  De Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frigia, onde uma copiosa multidão de judeus e de gregos se converteu à fé, 51. Aqui também encontraram forte resistência da parte dos judeus incrédulos, irritando os ânimos dos gentios contra seus irmãos. Daqui passaram para Listra e Derbe, cidades importantes da Licaônia, 14: 1-6. Em Listra, o apóstolo S. Paulo curou um homem coxo desde o ventre materno. O povo tendo visto o milagre, levantou a voz dizendo:
            "Estes, são deuses que baixaram a nós em figura de homens; chamava o Barnabé, Júpiter e a Paulo Mercúrio". Este fato ocasionou o segundo discurso feito por S. Paulo, registrado nos Atos, 15-18, no qual pós em evidência a estultícia da idolatria. É quase certa que a conversão de Timóteo se deu em Listra, At 16: 1; 2 Tm 1: 2; 3: 11. A popularidade de Paulo durou pouco. Irrompeu nova perseguição, instigada pelos judeus, At 14: 19, apedrejando-o e lançando-o fora da cidade como morto, At 14: 19. Rodeando-o os discípulos, e levantando-se ele, entrou na cidade e no dia seguinte partiu com Barnabé para Derbe, limite provável da província da Galácia a sudeste, 20. Seria possível aos dois missionários atravessar a cordilheira indo a Cilícia e passando por Tarso, irem diretamente de regresso a Antioquia da Síria. Fizeram um novo círculo; não quiseram voltar antes de consolidar a existência das novas Igrejas. Portanto, passaram de Derbe a Listra, de Listra a Icônio, de Icônio a Antioquia da Pisídia, de Antioquia a Perge, organizando igrejas e animando os discípulos. Nesta cidade pregaram o Evangelho que parece não haviam feito na primeira visita; dirigiram-se ao porto de Atalia e dali regressaram a Antioquia da Síria, At 14: 21-26. E assim terminou a primeira viagem missionária do apóstolo. Esta viagem compreendia todas, as regiões para o lado do ocidente, já ocupadas pelo Evangelho. O método de trabalho consistia em oferecer em primeiro lugar a salvação aos judeus e depois aos gentios. Encontrou o apóstolo grande número deles influenciados pelo judaísmo, e, portanto, em condições de receber a nova doutrina. O seu objetivo consistia em formar igrejas nas cidades principais. As boas estradas de rodagem abertas pelo governo romano, entre os postos militares, contribuíram muito para facilitar as viagens missionárias. A língua grega, por ser geralmente falada, serviu de veículo à pregação da verdade. A Providência havia por este modo, preparado o caminho para a difusão do Evangelho no mundo. Sobre as viagens missionárias, podem os leitores consultar Conybeare e Howson que escreveram sobre a primeira viagem de S. Paulo, Life and Epistles of St. Paul; e especialmente, em referência à primeira viagem, a primeira parte da obra de Ramsay, Church in the Roman Empire.
Os grandes resultados da obra de S. Paulo entre os gentios provocaram sérias controvérsias dentro da igreja. Certos números de cristãos, vindos do judaísmo, foram de Jerusalém para Antioquia, ensinando ali que não poderiam ser salvos os gentios convertidos a menos que fosse primeiramente circuncidada, At 15: 1. Alguns anos antes, Deus havia revelado à igreja por meio do apóstolo S. Pedro, que os gentios deviam ser recebidos na igreja sem a observância das leis de Moisés, At 10: 1 até cap. 11: 18. Porém os fariseus restritos, convertidos ao Cristianismo, 15: 5, não se podia conformar com esta doutrina vencedora na igreja da Antioquia, e de tal maneira perturbaram a consciência dos irmãos, que eles resolveram mandar Paulo e Barnabé, acompanhados de outros irmãos a Jerusalém, para consultarem os apóstolos e os anciãos sobre este assunto. Esta viagem é a que vêm descritas no cap. 15 dos Atos e em Gl 2: 1-10. Ambas estas descrições são inteiramente acordes, posto que feitas sob pontos de vista diferentes. S. Paulo diz que foi lá em conseqüência de uma revelação divina, Gl 2: 2. A situação era delicada e muito crítica. O futuro da nova religião dependia de uma resolução sábia. Dela resultou a vitória da lealdade cristã e da caridade. Paulo e Barnabé mostraram à igreja mãe o que Deus havia feito por intermédio deles. Diante da oposição dos elementos judaicos reuniu-se um concílio dos apóstolos e dos anciãos, At 15: 6-29, S. Pedro recordou o fato da conversão de Cornélio; Paulo e Barnabé relataram os fatos que se deu em sua viagem missionária; Tiago, irmão do Senhor, fez lembrar a profecia, anunciando a vocação dos gentios. Resolveram então aceitar como irmãos os conversos não circuncidados, exortando-os apenas a se absterem de certas práticas altamente ofensivas aos judeus. Dizem o apóstolo na carta aos Gálatas, que ele advertiu a igreja de Jerusalém contra os falsos irmãos, e também que Tiago, Pedro e João lhe haviam dado as mãos em sinal de companhia para que ele fosse aos gentios e eles aos judeus. Deste modo, o apóstolo manteve as relações com os outros apóstolos, continuando livremente o seu trabalho missionário para o qual havia sido divinamente destinado. O quanto esta controvérsia acirrou os ódios do judaísmo, pode ver-se na subseqüente perseguição contra Paulo. A sua vitória nesta questão serviu para conservar a unidade da igreja e garantir a liberdade dos gentios.
  Um sábio ajustamento de idéias, de resultados práticos, conciliou os prejuízos razoáveis dos judeus, ao mesmo tempo em que o caminho para a evangelização dos gentios em todas as direções, ficou aberto e livre das cerimônias judaicas. Na carta aos Gl 2: 11-21, existe rápida alusão a uma controvérsia sobre o assunto em Antioquia, de que não há registro. Pedro tinha ido lá, e, estando de pleno acordo com as idéias de Paulo, mantinha livre relações com os gentios; mas, chegando ali alguns judeus de Jerusalém, Pedro e Barnabé, como que haviam cortado relações com os gentios. Esta maneira de proceder repreensível foi severamente condenada por S. Paulo, que ao mesmo tempo esboçou a doutrina da justificação pela fé sem as obras da lei, porque, dizia ele, eu estou morto à lei pela mesma lei, querendo com isso dizer que pela morte de Cristo ficaram prejudicadas todas as obrigações, impostas pela lei cerimonial. A única condição para se tornarem discípulos de Cristo, era crer nele para a salvação. Vê-se, pois, que os direitos dos gentios na igreja cristã eram para o apóstolo, mais do que uma questão de unidade: envolvia um princípio essencial do Evangelho. Na defesa deste princípio, tanto como pela sua obra missionária, S. Paulo foi o principal agente para se estabelecer o Cristianismo universal.
  O concílio de Jerusalém se efetuou no ano 50. Não muito depois, S. Paulo propôs o Barnabé uma segunda viagem missionária, At 15: 36. Nesta ocasião não quis que João Marcos fosse com eles, ficando desde aí separados os dois grandes missionários. Desta vez acompanhou-o Silas. Primeiro visitaram as igrejas da Síria e da Cilícia; depois passaram para os lados do norte, atravessaram as montanhas do Tauro e passaram às igrejas que Paulo havia fundado na sua primeira viagem. Foram a Derbe e a Listra. Nesta última cidade, determinou levar a Timóteo, e o circuncidou por causa dos judeus que lá havia, impedindo por este modo que eles se escandalizassem, porque sua mãe era judia. Por este modo o mostraram desejos de conciliar os prejuízos judaicos e ao mesmo tempo não cedendo uma linha em questão de princípios. De Listra passou para Icônio e para Antioquia da Pisídia. Neste lugar encontrou a oposição dos filósofos. Diz Ramsay, e com ele outros, que ele seguiu diretamente para o norte, quando deixou Antioquia da Pisídia, atravessando a província romana da Ásia, porém sem pregar ali, por haver sido proibido pelo Espírito Santo, At 16: 6, e tendo chegado à Mísia, intentavam passar à Bitínia, 7, mas foram de novo proibidos de pregar ali. Passando depois à Misia, voltou-se para o ocidente, e foram para Trôade. A opinião mais comum é que eles, de Antioquia da Pisídia passaram para nordeste e foram para Galácia própria; nesta viagem Paulo adoeceu, aproveitando esta oportunidade, apesar de enfermo, para pregar na Galácia e fundar igrejas, Gl 4: 13-15; que este movimento ao nordeste foi por causa de terem sido proibidos de pregar na Ásia; que terminado que foi o trabalho na Galácia própria, tentaram entrar na Bitínia, sendo outra vez proibidos. E assim, adotando a primeira teoria, o apóstolo voltou para o ocidente para Trôade. Todo este período é rapidamente descrito por S. Lucas. O Espírito estava dirigindo os missionários para a Europa. A narração dos Atos assim o indica.
  Em Trôade apareceu a visão do homem de Macedônia, At 16: 9. Obedecendo a esta chamada, os missionários juntamente com S. Lucas, dirigem-se para a Europa e desembarcando em Neápolis, seguem logo para a importante cidade de Filipos. Ali fundaram uma igreja, 16: 1-40, que sempre foi cara ao coração de Paulo, Fp 1: 4-7; 4: 1 15. Aqui também, pela primeira vez, entrou em conflito com os magistrados romanos, servindo-se dos seus direitos de cidadão romano em favor de seu trabalho, At 16: 20-24, 37-39. De Filipos, onde Lucas ficou Paulo, Silas e Timóteo foram para Tessalônica. A deficiência de informações sobre o trabalho neste lugar, At 17: 1-9, é suprida pelas alusões que a ele fazem as duas epístolas àquela igreja.
  Alcançou grandes resultados entre os gentios e lançou com grande cuidado os alicerces da igreja, servindo-lhe de exemplo de indústria e sobriedade, provendo pelo trabalho manual, o seu sustento e o de seus companheiros enquanto ali esteve a serviço do evangelho, 1 Ts cap. 2, etc. Veio à perseguição instigada pelos judeus, e por isso a irmã enviaram Paulo para a Beréia; deste lugar, após valiosos resultados, até mesmo dentro da sinagoga, seguiu para Atenas.
A sua estada nesta cidade foi sem resultados. O que de mais importante se deu, foi o brilhante discurso por ele proferido no Areópago em presença dos filósofos gregos, At 17: 22-31, no qual o apóstolo fez apreciações sobre as verdades que o Evangelho continha em comum com o estoicismo, e ao mesmo tempo proclamando o seu auditório os deveres que tinha para com Deus e o que deveriam crer a seu respeito. Em Corinto, onde se deteve dezoito meses, ao contrário de Atenas, seus trabalhos surtiram efeito admirável.  Travou relações com Áquila e Priscila e hospedou-se em sua casa, 18: 1-3. A princípio pregava na sinagoga, depois, por causa da oposição dos judeus, passou a pregar em casa de certo Tito Justo, próximo à sinagoga, 5-7. Tanto no livro dos At 18: 9, l0, como na 1 Co 2: 1-5, encontram-se alusões à grande ansiedade com que o apóstolo prosseguia na sua missão em Corinto, e o seu desejo ardente de proclamar o evangelho na Grécia e em outros lugares. Na 1º aos coríntios refere-se aos bons resultados de seus trabalhos e às muitas tentações a que a igreja de Corinto estava exposta. As necessidades de outras igrejas também serviam de objeto a seus constantes cuidados. De Corinto escreveu as duas epístolas aos Tessalonicenses, com o propósito de advertir os irmãos contra certas doutrinas e práticas nocivas que ameaçavam a igreja. As hostilidades dos judeus continuavam. Por ocasião da chegada a Corinto do procônsul Gálio, acusou a Paulo de violar a lei.  O procônsul decidiu que a questão devia ser resolvida pelo pessoal da sinagoga, que o apóstolo não havia violado lei alguma que exigisse a sua intervenção. Nesta época, o império romano defendia os cristãos das violências dos judeus, identificando-os com eles e deste modo, o apóstolo podia continuar o seu trabalho sem embaraço algum. A missão de Paulo em Corinto é uma das mais frutíferas que a história da igreja primitiva registra. Finalmente, o apóstolo volta-se outra vez para o oriente. De Corinto vai para Éfeso, onde não se demorou, e segue para Cesaréia indo apressadamente para Jerusalém. Havendo saudado a igreja desta cidade, voltou a Antioquia, de onde havia partido At 18: 22. Assim terminou ele a segunda viagem missionária de que resultou o estabelecimento do Cristianismo na Europa. A Macedônia e a Acaia estavam evangelizadas. O Evangelho havia dado grande passo para a conquista do império romano. Depois de algum tempo em Antioquia, o apóstolo S. Paulo, talvez no ano 54, deu início à sua terceira viagem. Primeiro atravessou a região da Galácia e da Frigia a fim de fortalecer os discípulos, 23, depois vai à Éfeso. Parece que a anterior proibição de pregar o evangelho na Ásia, havia sido removida. Éfeso era a capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Permaneceram três anos estabelecendo ali o centro de operações, 19: 8 9; 20: 31. Durante três meses ensinava na sinagoga, 18: 8, e depois durante dois anos na escola de certo Tirano, 9. O seu trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de instrução, 20: 18-31, pela operação de portentosos milagres, 19: 11, 12, pelos resultados obtidos, porque todos que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor, 10, e até mesmo alguns dos principais da Ásia eram seus amigos, 31, também pela constante e feroz perseguição, 23-41; 1CO 4: 9-13; 15: 32, e finalmente pelo cuidado que tinha de todas as igrejas, 2 Co 11: 28. Este período da vida do apóstolo é rico em incidentes. Muitas cousas se deram que não se encontram nos Atos. Em Corinto, o apóstolo soube dos ataques que lhe faziam e à sua doutrina os mestres judaizantes da Galácia, o que deu origem à epístola aos Gálatas, na qual defende a sua autoridade apostólica e os primeiros ensinos formais sobre a doutrina da graça. O estado da Igreja de Corinto também lhe deu motivo a constantes aflições. Em resposta às perguntas que a igreja lhe fez, escreveu uma carta que se perdeu, a respeito das relações dos crentes com a sociedade pagã, 1 Co 5: 9. Notícias posteriores dão a entender que haviam surgido dificuldades mais sérias. A primeira epístola aos Coríntios foi escrita de modo a mostrar a sabedoria prática do apóstolo; no modo de instruir e disciplinar as igrejas nascentes. Apesar disso, os elementos sediciosos da igreja de Corinto, continuaram em ação. Pensam alguns que depois de haver enviado a carta, ele próprio foi a Corinto apressadamente para corrigir os crentes indisciplinados, cp. 2 Co 12: 14; 13: 1.
  É certo, porém, que antes de sair de Éfeso enviou Tito a Corinto, talvez levando instruções sobre o caso de um membro refratário da igreja. Tito deveria encontrar-se outra vez com o apóstolo em Trôade.  Falhando este encontro, Paulo passou para a Macedônia, muito ansioso, aonde haviam chegado Timóteo e Erasto, At 19: 22.
            Finalmente, Tito chegou ao encontro desejado, 2 Co 2: 12-14; 7: 5-16, levando boas notícias: a igreja havia obedecido às instruções do apóstolo e permanecia fiel. Isto deu assunto para escrever a segunda epístola, a que contém as mais completas notas biográficas, e em que ele se regozija pela obediência dos irmãos, e dá instruções sobre o serviço das contribuições destinadas aos santos da Judéia; mais uma vez defende a sua autoridade apostólica. Da Macedônia seguiu para Corinto, onde foi passar o inverno do ano 57-58. Durante a sua estada, completou o serviço de organização e regulou a disciplina da igreja. Foi ainda memorável a visita que ele fez a Corinto, porque nessa ocasião é que ele escreveu a epístola aos romanos, em que expõe com toda a clareza a doutrina referente à salvação da alma. Evidentemente, considerava a cidade de Roma como o ponto culminante de suas operações, mas não podia ir já, porque tinha necessidade de voltar a Jerusalém para levar as ofertas das igrejas dos gentios à igreja mãe. O trabalho cristão Já havia sido iniciado em Roma, e continuava a ser feito pelos amigos de Paulo, cp.  Rm 16.
  Enviou a epístola escrita em Corinto para que os cristãos da capital possuíssem instruções completas sobre o Evangelho que ele pregava em todo o mundo. Agora inicia a sua última viagem a Jerusalém, acompanhada de amigos, representantes das várias igrejas dos gentios, At 20: 4. O trabalho do apóstolo entre os gentios sofreu grande oposição da parte dos judeus e até mesmo de cristãos vindos do judaísmo que tentavam desprestigiá-lo. Resultou daí o plano de provar a lealdade das igrejas dos gentios, induzindo-as a enviar ofertas liberais aos pobres da Judéia. Foi para este fim que ele e seus amigos saíram de Corinto com destino a Jerusalém. O seu primitivo plano era de navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus, o obrigou a voltar pela Macedônia, 20: 3. Demorou-se em Filipos enquanto que seus companheiros caminhavam para Trôade. Depois da festa da páscoa ele e Lucas foram para Trôade, 5, onde os companheiros o esperavam e onde se demoraram sete dias, 6. Havia lá uma igreja. Lucas dá-nos interessante notícia do que se passou nas vésperas da partida do apóstolo, 7-12. De Trôade caminhou Paulo para Assôs que ficava distante cerca de vinte milhas, para onde haviam embarcado seus companheiros, 13. Deste porto, navegaram para Mitilene, que ficava na costa oriental da ilha de Lesbos, e costeando pela banda do sul, passaram entre a terra firme e a ilha de Quios; no dia seguinte aportaram em Samos e no outro, chegaram a Mileto, 14: 15.  Esta cidade estava a 36 milhas de Éfeso, e, como Paulo tivesse pressa, resolveu não ir lá, e, por isso, mandou chamar os presbíteros da igreja. Em Mileto fez as suas despedidas de modo muito emocionante, como se lê em At 20: 18-35. Não havia palavras capazes de exprimir mais vivamente a dedicação pela sua obra e o amor que votava a seus irmãos convertidos. Partindo de Mileto, o navio seguiu diretamente a Cós, At 21: 1 nome de uma ilha situada a 40 milhas para o sul; no seguinte dia, chegaram a Rodes distante 50 milhas de Cós; de Rodes passaram a Pátara, nas costas da Lícia, At 21:1. Encontrando um navio que passava à Fenícia, entraram nele, e fizeram-se à vela. Depois de estarem à vista de Chipre deixando-a a esquerda, chegaram a Tiro, 3, onde se demoraram sete dias. Inspirados pelo Espírito Santo, os discípulos instavam com Paulo para não ir a Jerusalém, 4. Depois de uma afetuosa despedida, partiram para Ptolemaida, que hoje se chama Acre, 5, 6, e no seguinte dia chegaram a Cesaréia, 7, 8, aboletando-se em casa de Filipe, o evangelista. Aqui também o profeta Ágabo, que tempo antes havia profetizado a fome, 11: 28, tomando a cinta de Paulo, e atando-se os pés e as mãos, disse: "Assim atarão os judeus em Jerusalém, ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios". A despeito destas alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos, ele seguiu viagem, 21:11-14, acompanhado dos irmãos, e assim terminou a terceira viagem missionária.
Em breve se cumpriram às palavras de Ágabo. A princípio foi bem recebido pelos irmãos. No seguinte dia à sua chegada, foi à casa de Tiago, irmão do Senhor, onde se haviam congregado os anciãos, aos quais contou todas as cousas que Deus tinha feito entre os gentios por seu ministério. Ouvindo isto, engrandeceram a Deus. Ao mesmo tempo disseram-lhe os irmãos que muitos dos judeus que estavam entre os gentios, haviam dado más notícias a seu respeito, que punham em dúvida a sua fidelidade às leis de Moisés.  Era necessário, pois, que ele dessas provas visíveis que o justificassem. Aconselharam-no a que tomasse consigo a quatro varões que tinham voto sobre si, que os levasse ao templo, que se santificasse com eles e fizesse as despesas da cerimônia. A isto Paulo acedeu de bom grado porque era seu desejo agradar aos judeus.  A cerimônia era pouco mais do que a que havia feito em Corinto, 18: 18. Conquanto o apóstolo insistisse em que os gentios não eram obrigados às cerimônias judaicas, e nenhum dos cristãos vindos do judaísmo não mais estava na obrigação de observá-las, ele, contudo reserva-se o direito de praticar, ou não, certas cerimônias de acordo com as circunstâncias. Este ato, portanto, não era inconsistente com o seu proceder em outras ocasiões. Mas o expediente tomado não surtiu efeito. Certos judeus da Ásia o viram no templo e deram alarma. Acusaram-no de haver introduzido gentios no templo, amotinaram todo o povo dizendo que havia profanado o lugar santo, 21: 27-29. Seguiu-se um tumulto. O povo arrastou a Paulo para fora do templo e o teriam assassinado, se o tribuno Cláudio Lísias não tivesse corrido para o lugar do conflito, arrebatando o Paulo das mãos do povo e fazendo-o liar com cadeias o meteu na prisão. Paulo, com permissão do tribuno, pondo-se em pé sobre os degraus, fez sinal ao povo com a mão, para falar. O tribuno pensou a princípio que ele era certo egípcio que tempo antes havia dado muito trabalho ao governo. Quando Paulo contou que era judeu de Tarso, consentiu que falasse ao povo, o que ele fez em língua hebraica, 22: 2. Contou a história do seu nascimento, da sua vida e da sua conversão, até ao ponto em que falou em nações de longe, quando romperam em gritos para que o matassem. Neste ponto o tribuno o mandou recolher à cidadela, e que o açoitassem e lhe dessem tormento. Tendo-o liado com umas correias, disse Paulo a um centurião: "É-vos permitido açoitar um cidadão romano e que não foi condenado?", 25. Sabendo disto, Lísias, o mandou desatar, ordenando que e conselho dos sacerdotes tomasse conhecimento do caso. O comparecimento de Paulo perante o conselho provocou novo tumulto, At 23: 1-10. O apóstolo estava agora defendendo a vida, não podia esperar justiça. Se fosse condenado, o tribuno Lísias entregá-lo-ia para ser executado. Com muita habilidade dividiu a opinião de seus inimigos; dizendo que professava ser fariseu, e queriam condená-lo por pregar a ressurreição dos mortos. Isto era verdade e, até certo ponto, prestava-se aos fins em vista. O ódio entre fariseus e saduceus era mais forte do que os dois juntos contra Paulo. As duas seitas tomaram posições opostas. O tribuno, receando que Paulo fosse trucidado entre as duas facções, mandou que os soldados o arrebatassem das mãos da multidão e o metessem na prisão. Naquela noite, o Senhor apareceu a Paulo em visão, dizendo-lhe: "Coragem! porque assim como deste testemunho em Jerusalém assim importa que também o dê em Roma", At 23: 11. A morte de Paulo estava decretada devendo efetuar-se de modo inesperado. Alguns dos judeus combinaram em pedir ao tribuno que mais uma vez mandasse vir o prisioneiro perante o concílio. Um filho da irmã de Paulo soube do plano e informou a seu tio, que por sua vez, mandou o pequeno dar notícia ao tribuno, 12-22. Por este motivo, Lísias mandou aprontar forte contingente de tropas para conduzir Paulo a Cesaréia, com uma carta ao presidente Félix, para que ele resolvesse o caso. Quando Félix soube que o acusado era da Cilícia, determinou que se esperasse a vinda dos acusadores. Entretanto, conservou-o em segurança no palácio de Herodes, que servia de pretório, ou residência do procurador.  Passaram-se dois anos de prisão em Cesaréia. Quando os judeus compareceram perante Félix, fizeram uma acusação em termos gerais, dizendo que Paulo era sedicioso, que havia profanado o templo, e queixaram-se da violência com que o tribuno Lísias o havia arrebatado das suas mãos, At 24: 1-9. A isto, Paulo respondeu com formal negação apelando para o testemunho de seus acusadores, 10-21. Félix estava perfeitamente informado, e sabia que Paulo não havia cometido nenhum crime que merecesse a morte. Despediu os acusadores adiando o julgamento para quando chegasse o tribuno Lísias. E mandou a um centurião que o tivesse em custódia sem tanto aperto e sem proibir que os seus o servissem.
  Passados alguns dias, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar o Paulo e o esteve ouvindo falar da fé que há em Jesus Cristo, 24. O apóstolo parece ter exercido estranha fascinação sobre o procurador que tremeu na sua presença, prometendo ouvi-lo de novo quando tivesse tempo. Esperava também que Paulo lhe desse algum dinheiro em troca de sua liberdade, 25: 26. O apóstolo não quis subornar o procurador, que adiou o julgamento. Dois anos depois, veio Pórcio Festo substituí-lo no governo, e Paulo ainda estava na prisão, 27. Os judeus esperavam que o novo governador lhes fosse mais favoráveis do que o tinha sido Félix. Festo recusou-se a enviar Paulo a Jerusalém para ser julgado; que estando preso em Cesaréia partiria para lá dentro de poucos dias, a fim de tomar conhecimento das acusações, At 25: 1-6. Ainda desta vez nada puderam provar. Paulo continuava afirmando a sua inocência, 7, 8. Festo, querendo agradar aos judeus, perguntou a Paulo se queria ser julgado em Jerusalém. Sabendo que a sua vida corria perigo se fosse ali julgado, serviu-se de seus privilégios de cidadão romano e apelou para César, 9-11. Por este modo o julgamento escapou das mãos do procurador, e o prisioneiro tinha de ser remetido para Roma. Antes da saída de Paulo, Agripa II e sua irmã Berenice vieram visitar a Festo talvez por motivo de sua nomeação.
  O novo procurador que não era muito versado em controvérsias judaicas, e como tinha de enviar ao imperador um relatório de informações sobre o caso, contou a Agripa o caso de Paulo. Por sua vez, o rei mostrou desejos de saber o que o prisioneiro dizia em defesa. Arranjaram-se as cousas de modo que Paulo comparecesse a uma assembléia destas notáveis personagens. Agripa era versado em casos de doutrina e poderia servir de muito para instruir o relatório que o procurador tinha de mandar para Roma, 12-27. A defesa de Paulo perante o rei Agripa é um dos seus mais notáveis discursos. Nele revela as qualidades de homem de elevada educação, a eloqüência de orador e firmeza de cristão. Passa revista ao seu passado a fim de provar que em todos os seus atos procurou sempre servir a Deus, e que a sua carreira como cristão, não só obedecia a uma direção divina, como ao cumprimento das profecias, At 26:1-23. Quando Festo o interrompeu, exclamando: "Tu estás louco, Paulo", apelou energicamente para Agripa. Porém o rei estava disposto a ser simples observador e crítico do que ele julgava ser um novo fanatismo, e respondeu com uma frase de desprezo: "Por pouco me persuades a me fazer cristão", 28. Contudo estava convencido de que Paulo não tinha crime e que poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado para César, 31, 32. No outono do mesmo ano 60, Paulo foi enviado para Roma, confiado juntamente com outros presos ao cuidado de um centurião chamado Júlio, da coorte Augusta. Lucas foi seu companheiro juntamente com Aristarco de Tessalônica, 27: 1, 2. Lucas é quem dá o relatório desta viagem com minúcias muito particulares e admirável exatidão. Veja James Smith, Voyage and Shipwreck of St. Paul. O apóstolo foi tratado com muita cortesia pelo centurião. Embarcando em um navio de Adrumete, chegaram a Sidom, donde partiram para a Mirra na Lícia. E achando ali o centurião um navio de Alexandria que fazia viagem para a Itália, embarcou nele. Os ventos não eram favoráveis, e por isso foram obrigados a navegar lentamente e apenas puderam avistar a Cnido na costa da Cária. Tomando o rumo sul, foram costeando a ilha de Creta, junto a Salmona com dificuldade ao longo da costa, abordaram a um lugar a que chama Bons Portos, At 27: 3-8. Havia passado o jejum do décimo dia do mês de Tisri, o dia da expiação 9, quando chegaram ao termo da viagem. O tempo continuava ameaçador. Paulo mostrou a inconveniência de continuar a viagem, mas o centurião deu mais crédito ao mestre e ao comandante do navio que eram contrários e desejavam chegar a Fênix e invernar ali por ser porto de Creta, onde havia bom ancoradouro, 9-12. Mas logo que largaram de Bons Portos veio contra a ilha um tufão e vento, chamado Euro-aquilão, que arrojou a nau para o sul, indo dar a uma pequena Clauda (a moderna Gozzo). Alijada que foi a carga, e os aparelhos do navio, correram assim durante catorze dias à mercê dos ventos para os lados do ocidente. Paulo mostrava-se animado e animava os companheiros, porque o Senhor lhe havia revelado em sonhos que nenhum deles havia de perecer, 13-26. Lançando eles a sonda, perceberam que estavam perto de terra, e, lançando as quatro âncoras, esperavam que viesse o dia. Como tivesse aclarado o dia, não conheceram a terra: somente vira uma enseada que tinha ribeira, na qual intentavam encalhar o navio. Pelo que, tendo levantado âncoras, se entregaram ao mar, e se encaminharam à praia, 27-40. O navio deu numa língua de terra; a proa afincada permanecia imóvel, ao mesmo tempo em que a popa se abria com a força do mar. Todos se lançaram às ondas; e, como Paulo havia dito, nenhum deles pereceu, 41-44.
Nesta emocionante aventura, que Lucas descreve com tanta minúcia, o proceder de Paulo ilustra muito bem a coragem de um cristão e a influência que um homem de fé exerce sobre os outros indivíduos, em tempos de perigo. A terra a que haviam chegado era a ilha de Melita, que hoje se apelida Malta, situada a 58 milhas ao sul da Sicília, cujos habitantes receberam os náufragos com muita cordialidade. O procedimento maravilhoso de Paulo ganhou para ele multa honra e simpatia, At 28: 1-10. Três meses depois, embarcaram em um navio de Alexandria que tinha invernado na ilha, no qual arribaram em Siracusa, onde ficaram três dias.  De lá, correndo a costa, foram a Régio, e depois dias mais, apartaram a Potéoli, a sudoeste da Itália. Ali, Paulo encontrou irmãos em cuja companhia se demorou sete dias, 11-14. Entretanto a notícia chegou a Roma.  Os irmãos vieram encontrá-lo à Praça de Ápio e às Três Vendas, nomes de dois lugares distantes de Roma, 43 e 33 milhas, respectivamente. O centurião entregou os prisioneiros ao capitão da guarda, que era o prefeito da guarda pretoriana, cargo este exercido nesta ocasião, A. D. 61, pelo célebre Burro. Mommsen e Ramsay pensam que os prisioneiros foram entregues ao capitão de outro corpo a que o centurião Júlio pertencia cujo ofício consistia em superintender o transporte dos cereais para a capital e outros encargos policiais.  Realmente não sabemos quem foi que tomou sobre si a guarda de Paulo. O que se pode dizer é que ele ficou sob a guarda de um soldado com licença de habitar onde quisesse 28: 16; Fp 1: 7 13. As apelações para César eram atendidas com muita morosidade. Dois anos inteiros permaneceu Paulo em um aposento que alugara, onde recebia a todos que o queriam ver, 28: 30. E assim termina a narrativa da primeira detenção de Paulo em Roma. Os Atos dos Apóstolos concluem dizendo que, passados três dias, convocou Paulo os principais dos judeus para informá-los dos motivos de sua prisão na capital, tendo-lhe aprazado dia para dar testemunho do Reino de Deus, convencendo-os a respeito de Jesus, pela lei de Moisés e pelos profetas, desde pela manhã até à tarde. Como não o quisessem crer, declarou mais uma vez que aos Gentios era enviada esta salvação. A prisão não o impedia de exercer a sua atividade missionária, 28: 17-31. As epístolas que ele escreveu neste período, iluminam mais de perto esta faze de sua história: é as epístolas aos Colossenses, a Filemom, aos Efésios e aos Filipenses.
  As primeiras três foram provavelmente escritas no princípio deste período, e a última no fim. Por elas se vê que o apóstolo tinha muitos amigos fiéis em Roma trabalhando com ele, entre os quais se contam: Timóteo, Cl 1: 1; Fp 1: 1; 2: 19; Fm 1: 1; Tíquico, Ef 6: 21; Cl 4: 7; Aristarco, Cl 4: 7 10; Fm 24; João Marcos Cl 4: 10; Fm 24, e Lucas, Cl 4: 14; Fm 24. Estes amigos tinham livre acesso à sua pessoa e operavam como mensageiros para as igrejas e como cooperadores em Roma. Paulo na prisão era o centro de onde irradiava a luz do Evangelho para todo o império. As epístolas citadas põem em relevo a atividade pessoal do eminente apóstolo. Com grande zelo e apreciáveis resultados, apesar das suas cadeias, pregava o Evangelho: estando em cadeias fazia o ofício de embaixador, Ef 6: 20. Pedia a seus amigos que orassem a Deus para que se lhe abrisse a porta da palavra para anunciar o mistério de Cristo, Cl 4: 3. Em Onésimo, escravo fugido, vê um exemplo vivo do fruto de seu trabalho, Fm 10. À medida que o tempo corria, aumentava também o seu trabalho. Escreveu aos Fp 1: 12, 13, que todas as cousas que lhe tinham acontecido haviam contribuído para proveito do Evangelho, de maneira que as suas prisões se tinham feito notícias em Cristo por toda a corte do Imperador e em todos os outros lugares. Enviou saudações dos que eram da família de César. Ao mesmo tempo sofria oposição até mesmo de alguns dos crentes, provavelmente do tipo judaico, 1: 15-18, e que ele enfrentava com ânimo sereno, esperando ser em breve livre das prisões, Fp 1: 25; 2: 17 24; Fm 22.
  A detenção de Paulo serviu nas mãos de Deus para habilitá-lo a exercer com mais precisão o ofício de embaixador de Cristo. Finalmente, as epístolas provam que o apóstolo superintendia a todas as igrejas espalhadas pelo território do grande império. Na Ásia surgiram novas heresias. Nas epístolas que escreveu na prisão, forneceu as mais preciosas instruções acerca da pessoa de Cristo e dos eternos propósitos de Deus revelados no Evangelho, e ao mesmo tempo as direções práticas que elas contêm descobrem a largueza do círculo em que exercia a sua atividade, e o fervor de sua vida cristã.
  O livro dos Atos termina deixando a Paulo na prisão em Roma. Existem abundante provas que nos levam a crer que ao cabo de dois anos foi solto, continuando as suas viagens missionárias. As provas referidas podem ser condensadas da seguinte forma: (1) Os vv. finais dos Atos acomodam-se melhor com esta idéia, do que pensando que a prisão do apóstolo terminou pela condenação e morte. Lucas dá relevo ao fato de que o apóstolo pregava o Reino de Deus e ensinava as cousas concernentes ao Senhor Jesus Cristo com toda a liberdade e sem proibição, dando-nos a entender que o fim de sua atividade não estava próximo. (2) Na epístola aos Fp 1:25; 2:17, 24, em Fm 22, diz claramente que cedo ficaria livre. Esta esperança encontra apoio no tratamento que havia recebido dos oficiais romanos. Deve-se notar que as perseguições de Nero contra os cristãos ainda não haviam começado; que se o apóstolo fosse condenado, seria um ato sem precedentes nas relações do governo com os cristãos; que em face das leis do império, sendo os cristãos tidos como seita judaica, era garantida no exercício de suas crenças.
  É provável também que na acusação contra Paulo entrasse algum crime contra as leis romanas.  Contudo, o relatório enviado por Festo nada continha que o desabonasse, At 26: 31, nem parece que os judeus tivessem mandado algum acusador a Roma, 28: 21. (3) Afirma a tradição que Paulo foi solto e reassumiu a sua atividade missionária sendo mais tarde novamente preso. Clemente de Alexandria a.D. 96 dá a entender claramente que o apóstolo chegou a ir à Espanha, quando diz que em suas viagens "chegou ao extremo ocidente". Este fato é confirmado pelo Fragmento Muratório, A. D. 170. Com isto concorda a história de Euzébio, A. D. 324, onde se diz que, segundo a tradição comum, depois que Paulo saiu da prisão, tendo feito a sua defesa, se entregou de novo ao ministério da pregação, e mais uma vez foi a Roma, onde sofreu o martírio. É admissível que esta evidência tradicional não seja suficientemente forte para uma demonstração absolutamente exata; porém, pertence a uma época remota e é em si mesma bastante forte para confirmar a evidência contra a qual não se pode opor nenhuma outra. (4) Ninguém pode contestar que as epístolas a Timóteo e a Tito não sejam genuínas em razão da evidência interna e externa o seu favor. Ora, nenhuma delas é mencionada na história de Paulo, como a dá o livro de Atos. Logo, deve pertencer a uma época posterior, o que nos leva a aceitar a tradição referida por Euzébio. Devemos, pois, acreditar que o apelo feito do tribunal de Festo para o de César, deu em resultado a sua liberdade. Os trabalhos subseqüentes somente poderão ser avaliados pelas alusões que se encontram nas epístolas a Timóteo e a Tito e pelo testemunho da tradição.  Podemos supor que depois de solto, seguiu para a Ásia e Macedônia como desejava Fp 2: 24; Fm 22. Pelo que se lê, era 1 Tm 1: 3 sabem-se que ele deixou a Timóteo encarregado de cuidar das igrejas em Éfeso, indo para a Macedônia. Onde se achava, quando escreveu a sua primeira carta a Timóteo, não é fácil saber, mas ele esperava regressar brevemente a Éfeso, I Tm 3: 14. Pela carta a Tito, sabe-se que havia confiado a ele o cuidado das igrejas de Creta e que esperava passar o inverno em Nicópolis, Tt 3: 12.  Havia três cidades com este nome, a que se pode aplicar esta referência, uma na Trácia perto de Macedônia, outra na Cilícia e a terceira, no Epiro; de modo que não podemos dizer a qual delas se refere o apóstolo. É provável, porém, que fosse a do Epiro. Se aceitarmos o que diz a tradição sobre a ida de S. Paulo à Espanha, é lícito supor que só poderia ser depois de haver estado na Ásia e na Macedônia; e que, depois de regressar da Espanha, é que ele se demorou em Creta, onde deixou a Tito, voltando para a Ásia, de onde provavelmente escreveu a carta a Tito. Sabe-se mais pela leitura da segunda carta a Timóteo, 4: 20 que ele passou pela cidade de Corinto e por Mileto, uma na Grécia e outra na Ásia. Ignora-se se realizou o intento de invernar em Nicópolis. Muitos são de parecer que ele seguiu para Nicópolis do Epiro e que ali foi novamente preso e enviado para Roma. Apesar de serem muito incertos os movimentos do apóstolo durante o final de sua existência, as epístolas neste período, dizem o bastante para sabermos que empregava a sua atividade, evangelizando novas regiões e fundando igrejas nos moldes das já existentes, perfeitamente organizadas. Sabia que pouco lhe restava de vida e que as igrejas ficariam expostas a novos perigos, tanto internos como externos. Daqui vem que as epístolas pastorais, como são chamadas, serviam de veículo para levar às igrejas as instruções apostólicas necessárias à consolidação de sua fé e equipando-as praticamente para a obra do futuro.
O livramento de Paulo, quando foi presa a primeira vez, deu-se pelo ano 63; a sua subseqüente atividade duraram quatro anos. Segundo Euzébio a morte de Paulo deu-se no ano 67, e segundo S. Jerônimo, no ano 68. Qual foi o motivo de ser outra vez preso não se sabe. Na segunda epístola a Timóteo, escrita de Roma pouco antes de morrer, encontra-se alguns indícios. Devemos recordar que a perseguição de Nero aos cristãos explodiu no ano 64, seguida de outras em várias províncias do império, 1 Pe 4: 33-19. Pode bem ser como alguns presumem que o apóstolo foi apontado como o chefe da nova seita pelo Alexandre por ele mencionado na carta a Timóteo, 2 Tm 4: 14. Seja como for, foi preso e remetido para Roma a fim de ser julgado, ou por que tenha apelado para César, como fez antes, ou por ser acusado de algum crime cometido na Itália. Talvez de cumplicidade no incêndio de Roma ou ainda por causa da oficiosidade de algum procurador provincial que desejava gratificar a vaidade do tirano, enviando-lhe tão preciosa presa. Somente o seu amigo Lucas se achava com ele, quando escreveu a carta a Timóteo, 2 Tm 4: 11. Alguns o haviam abandonado 1: 15; 4: l0, 16 e outros se haviam ausentado para lugares diferentes, 10: 12. A primeira vez que compareceu ao tribunal, foram absolvidos, 17, continuando na prisão por algum motivo diferente. Quem sabe se tendo sido absolvido por algum crime, ficou na prisão por ser cristão. Fala de si como prisioneiro, 1: 8, e em cadeias, 16, como malfeitor, 2: 9, e estava a ponto de ser sacrificado, 4: 6-8. É certo que afinal foi condenado à morte simplesmente por ser cristão, de acordo com a política de Nero iniciada no ano 64. Diz a tradição que Paulo foi decapitado, sendo cidadão romano, na via Óstia.
  Dando o esboço biográfico do apóstolo, referimo-nos ao testemunho dos Atos e das epístolas. Não devemos, contudo, ignorar que muitos outros fatos se deram durante a sua carreira ativa e fecunda. A alguns destes fatos, encontram-se alusões em várias epístolas, Rm 15: 18 19; 2 Co 11: 24-33. Os fatos bem averiguados da sua vida, conforme o testemunho das epístolas revela claramente o caráter do grande apóstolo e o valor supremo de sua obra. É difícil esboçar todas as linhas de seu caráter versátil. Era por natureza intensamente religiosa: a sua natureza obedecia inteiramente a esta influência quando fariseu, e muito mais depois da sua conversão. Dotado de alto vigor intelectual, apreendia todo o valor da verdade e logicamente obedecia a todas as suas injunções. A verdade dominava-lhe o coração e a mente. As emoções que ele produzia eram tão ardentes quanto vigorosos os processos lógicos de seu raciocínio. Ao mesmo tempo, os aspectos práticos da verdade, ele os via com a mesma nitidez como o seu teórico. Se por um lado tirava conclusões lógicas das suas idéias doutrinais, por outro, aplicava o Cristianismo à vida prática com a sabedoria e compreensão de um homem de negócios. Era intensamente afetivo e às vezes estático em suas experiências religiosas, sempre progressivas nas suas exposições da verdade, capaz de remontar-se às mais elevadas culminâncias do pensamento religioso e de vida e movimento à verdade pela qual se batia. A flexibilidade de caráter, a intensidade de espírito, a pureza de sentimentos, a vida espiritual, o vigor mental, dotes estes governados pelo espírito de Deus, habilitaram o apóstolo para a obra que a Providência Divina lhe havia destinado. Esta obra consistia em interpretar ao mundo gentílico por meio da palavra e escrita, e por atos sobrenaturais, a missão de Cristo e a mensagem de salvação que ele trouxe. O modo prático de realizar esta obra encontra-se bem descrito nos Atos dos Apóstolos. Por meio de sua ação inteligente, estabeleceu-se no mundo a catolicidade do Cristianismo, independente do ritualismo judaico e adaptável a todo o gênero humano, como bem o confirma a história. Outros obreiros colaboraram neste mesmo trabalho, porém só ao apóstolo S. Paulo foi divinamente confiada esta missão especial; a ele, mas do que a qualquer outro se devem às conquistas do Evangelho. É verdade que tudo isto se efetuou de acordo com os propósitos divinos. Mas os que estudam a história do Cristianismo devem reconhecer na pessoa de Paulo o agente desta grande obra. Por outro lado, as epístolas de S. Paulo expõem de modo claro a palavra do Cristo, dão-nos a interpretação doutrinal e ética das doutrinas e das obras por ele realizadas e a que seviram ao grande apóstolo para auxiliá-lo no exercício de sua grande atividade; sem isto, o Cristianismo não teria existência permanente nem exerceria tão profunda influência. É, pois, ao apóstolo das gentes que devemos admirar como grande teólogo. A sua teologia reflete a experiência peculiar de sua conversão. Por meio da repentina transição que se operou na sua vida religiosa, chegou a conhecer que era impossível salvar-se por si mesmo, e que o pecador depende exclusivamente da graça soberana de Deus, e da obra redentora de Jesus, o Filho de Deus, por meio de sua morte e ressurreição. Segue-se daí que, somente pela união com Cristo por meio da fé, é que o pecador poderá ser salvo. A salvação consiste na justificação do pecador que só Deus faz, baseada na obediência de Cristo, participando de todos os benefícios espirituais, tanto internos como externos, no céu e na terra, adquiridos para ele. O Espírito Santo deu a Paulo intuição necessária para lançar como fundamento de todo o seu trabalho, a verdade e a pessoa de Cristo. Nas epístolas aos Gálatas e aos Romanos, o meio de salvação acha-se plenamente elaborado, nas epístolas que escreveu nas prisões, encontram-se a exaltação da dignidade de Cristo e a inteira e completa demonstração dos fins e propósitos divinos em referências à igreja de Cristo. Além destes assuntos fundamentais, ele traça as linhas características do dever e da verdade cristã. A sua teoria predileta é a que fala da graça, cujas profundezas iluminam; interpreta o Messias hebreu ao mundo gentílico; ergue-se para explicar a doutrina do Salvador, em que ele creu e a obra redentora por ele realizada. Paulo teve a primazia como professor de teologia, e ao mesmo tempo salientou-se como o mais agressivo de todos os missionários. É impossível compreender o Cristianismo, sem os ensinos e as obras de Cristo e a interpretação fornecia pelo apóstolo S. Paulo. Cronologia da vida de S. Paulo. Conquanto a ordem dos acontecimentos da vida de S. Paulo e as datas relativas das suas epístolas sejam em grande parte bem claras, existem, contudo algumas divergências quanto aos anos em que se deram os fatos e em que foram escritas as epístolas. Nos Atos dos Apóstolos existem duas datas rigorosamente exatas, que é a data da ascensão de Cristo no ano 30, (posto que alguns digam que é 29), e da morte de Herodes Agripa, At 12: 23, que todos admitem ter sido no ano 44. Contudo nenhuma delas serve para determinar com absoluta certeza a cronologia da vida de Paulo, que depende principalmente de assinalar a data da posse do procurador Festo no governo da Judéia. Segundo a opinião mais geralmente aceita, que é a mais provável, Festo tomou posse do governo no ano 60, 24: 27. Josefo diz que quase todos os acontecimentos que se deram na Judéia durante o governo de Félix, se efetuaram no reinado de Nero, que começou em outubro do ano 54. S. Paulo em sua defesa perante Félix diz: "Sabendo que tu és juiz desta nação muitos anos há, com bom ânimo satisfarei por mim", 10. Em vista do que, a prisão de Paulo quando compareceu diante de Félix, não podia ser antes do ano 58. Paulo esteve por dois anos na cadeia de Cesaréia, e por isso a substituição de Félix deveria ter sido no ano 60 e não depois, porque no ano 62 o procurador de Roma Festo era substituído por Albio, sendo certo, pois, que ele governou mais de um ano. Se o Festo tomou posse do cargo no ano 60, Paulo deveria ter seguido para Roma no outono desse ano, chegando a Roma na primavera do ano seguinte depois de passar o inverno em viagem. Portanto a narrativa final dos Atos e o provável livramento de Paulo, quando pela primeira vez esteve em Roma devem ser datados do ano 63, 28: 30. Os acontecimentos da vida de Paulo, anteriores a esta data, precedem ao governo de Festo começado no ano 60. Sendo assim, a prisão de Paulo deu--se no ano 58, dois anos antes, At 24: 27, isto é, no fim da terceira viagem missionária. O inverno que precedeu a sua prisão passou-o ele em Corinto, 20:3, e o outono anterior, na Macedônia, 2, e antes desta época demorou-se três anos em Éfeso, 31, para onde havia ido, quando deixou Antioquia, depois de uma rápida excursão pela Galácia e pela Frigia, 28: 23. Conclui-se, pois, que na terceira viagem gastou quatro anos. Se ele foi preso em Jerusalém na primavera do ano 58, segue-se que começou esta viagem na primavera do ano 54. A terceira viagem foi iniciada pouco depois da segunda, 23, talvez dois anos e meio, visto que ele se demorou dezoito meses em Corinto, 11, e que os fatos precedentes teriam consumido mais um ano, 15: 36 até cap. 17: 34. Portanto, se a segunda viagem terminou no outono de 53, provavelmente começou na primavera de 51. A segunda viagem começou alguns dias, 15: 36, depois do concilio de Jerusalém que se efetuou no ano 50. A primeira viagem missionária não poderia realizar-se senão entre o ano 44, em que morreu Herodes, cap. 12, e o ano 50, em que se deu o concílio, cap. 15. Poder-se-á, pois, dar-se o período de 46-48, não sendo provável que gastasse tanto tempo.
  Para determinar a data da conversão de Paulo, precisamos combinar os cálculos acima referidos com o que diz a epístola aos Gálatas.  Diz ele no cap. 2: 1: "Catorze anos depois subi dali, outra vez a Jerusalém com Barnabé". Esta visita não pode ser outra senão a que ele fez para assistir ao concílio no ano 50. Mas desde quando começou ele a contar estes catorze anos? Segundo alguns comentadores, devem ser calculados desde a data de sua conversão, mencionada em Gl 1: 15, no ano 36 ou 37, segundo o modo de contar os catorze anos, incluindo ou excluindo o primeiro deles (. Mas em Cl 1: 18) Paulo nota que ele visitou Jerusalém três anos depois de ser convertido. É mais lógico datar os catorze anos, mencionados em Gl 2: 1, desde fim dos três anos prévios. Neste caso, de qualquer modo que se faça o cálculo, a conversão deu-se no ano 33 ou 35
  
PRISÃO EM CESARÉIA                                                                  
Os judeus de Jerusalém decidiram matar Paulo. Por isso, as autoridades romanas o conduziram em segurança até Cesaréia, onde esteve preso durante dois anos (At.23.23 a 26). Nesse período, ele se apresentou a várias autoridades: ao governador Félix e sua mulher Drusila, ao governador Pórcio Festo, sucessor de Félix, e ao rei Agripa e sua mulher Berenice. Diante deles, o apóstolo proferiu suas defesas, que foram verdadeiros testemunhos e pregações do evangelho. Estas autoridades não viam motivo para matar Paulo. Resolveram então devolvê-lo aos judeus para que eles mesmos resolvessem o problema. Diante dessa possibilidade, Paulo, sabendo que os judeus o matariam, apelou para César, ou seja, o imperador Nero.

PRISÃO EM ROMA
Sendo cidadão romano, Paulo tinha o direito de ser julgado em Roma. Foi então enviado para lá. Afinal, convinha que chegasse à capital do Império e ali pregasse o evangelho (At.19.21; 23.11). Após uma viagem conturbada e um naufrágio, Paulo finalmente chega a Roma (At.27). Ali permanece preso em uma casa alugada por ele mesmo durante dois anos (At.28). Nesse tempo, pregou o evangelho a todos quantos se interessavam por ouvi-lo.
A MORTE DE PAULO
As últimas palavras bíblicas sobre a vida do apóstolo Paulo encontram-se em At.28 e II Tm. 4.6-8. Informações extra bíblicas dão conta de que ele teria sido solto em 63 d.C.. Talvez tenha visitado a Espanha e outros lugares (de acordo com epístola de Clemente, Cânon Muratoriano e Atos de Pedro.). Finalmente, a tradição nos informa que o apóstolo Paulo foi preso e decapitado pelo imperador Nero em 67 d.C..
Resumindo a cronologia da vida de Paulo:                                                            
Data aproximada
Fato ou localidade visitada
Ano 1 d.C.
Nascimento de Paulo
Ano 33 ou 34 d.C.
Conversão
Entre 33 e 36
Deserto da Arábia
Ano 36
Primeira visita a Jerusalém
Entre 36 e 46
Síria, Cilícia (principalmente Tarso)
Entre 46 e 47 (Atos 11.25-26)
Antioquia da Síria
47
Segunda visita a Jerusalém
47
Antioquia da Síria
47 a 49
Primeira viagem missionária
49 (Atos 15)
Terceira visita a Jerusalém
50 a 52
Segunda viagem missionária
53 a 58
Terceira viagem missionária
58
Quarta visita a Jerusalém
58 a 59
Prisão em Cesaréia
60 a 62
Prisão em Roma
63 a 66
Liberdade e viagens diversas (???)
67
Morte em Roma

 BIBLIOGRAFIA
LOHSE, Eduard, Introdução ao Novo Testamento – Editora Sinodal.
TIDWELL, J.B., Visão Panorâmica da Bíblia – Edições Vida Nova.
BRUCE, F., Romanos – Introdução e Comentário – Série Cultura Bíblica – Edições Vida Nova.
CABRAL, Elienai, Comentário Bíblico – CPAD.
MEYER, F.B., Comentário Bíblico Devocional – Editora Betânia.
BORNKAMM, G., Paulo – Vida e Obra – Editora Vozes.
GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.
TURNER, Donald D., Exposição de Os Atos dos Apóstolos - Imprensa Batista Regular.






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